Memória

Por Walther Hermann Kerth

Sinopse

Essa não é uma discussão sobre técnicas de memorização! É sim uma reflexão livre a respeito de algumas ideias isoladas que pode contribuir para a construção de uma nova compreensão sobre a memória e o quanto podemos ou devemos exigir dela. Um mosaico de fatos, pesquisas científicas e percepções do autor que tem por objetivo despertar a curiosidade para essa compreensão menos técnica e menos bioquímica e fisiológica da memória, porém mais estruturalista enquanto atributo da existência humana e, também, da mãe Natureza. Se não proporcionar algum conhecimento útil conscientemente que, pelo menos, ative o interesse pelo aprofundamento na reflexão sobre a importância do conhecimento mais profundo da memória, o autoconhecimento.

Contexto

Depois de algum conflito inicial na escolha (conforme dito anteriormente no último artigo) entre os temas “Memória” e “Sintonia”, como uma continuação das ideias já expostas no artigo sobre os “Ritmos”, conclui que uma boa ‘memória’ serviria melhor de embasamento para o texto sobre “Sintonia”. Para iniciar com uma ideia impactante (em minha compreensão, naturalmente) gostaria de deixar a seguinte frase como emblema deste artigo: “A Natureza e o Universo possuem uma memória fabulosa! Caso contrário, no dia seguinte, talvez não encontrássemos o mesmo mundo que deixamos ao adormecer!”. E assim poderia ser… Você seria capaz de imaginar um mundo sem continuidade?

Artigo

Em minha área de atuação pessoal e profissional, desenvolvimento humano e educação, recebo muitas reclamações de falta de memória de meus clientes e amigos. Por essa razão escolhi falar sobre esse assunto como sendo uma resposta um tanto incomum a todos aqueles que insistem em acreditar que não têm boa memória! Se porventura sua memória não esteja funcionando bem, pode não ser falta de memória e sim falta de método ou estratégia de registro e/ou resgate de informações. Assim sendo, vamos como o esquartejador: por partes!

Em primeiro lugar, sempre acredito que todos nós tenhamos uma excelente memória! Isso é verdadeiro para cada pessoa em pelo menos um setor de sua vida: ou você tem uma memória excepcional para números, ou para nomes, ou para rostos e fisionomias, ou para lugares, ou para piadas e fantasias, ou para lembrar de suas necessidades ou, no mínimo, para ficar remoendo problemas e más lembranças com grande precisão!

Se sua memória não funciona tão bem para aquilo que você crê que mais precise, isso é apenas uma questão de método. Assim, quando me perguntam se a Concentração Dinâmica (metodologia de desbloqueio de aprendizagem que desenvolvi) melhora a memória, respondo sempre: sim e não! Isto é, não consiste numa técnica de memorização, mas enquanto estimula a integração de atividades dos dois hemisférios cerebrais, pode indiretamente proporcionar esse resultado de melhorar a memória.

Prosseguindo com as considerações sobre a memória individual e pessoal, principalmente nos dias de hoje nas grandes cidades, existe um fator extremamente importante que também condiciona a eficiência de nossas operações de armazenagem e recuperação de informações e conteúdos: o “Estresse”! Existem muitas pessoas para as quais a falta de eficácia da memória está intimamente relacionada com o acúmulo de estresse e cansaço (que certamente reduz drasticamente a capacidade de gerenciamento da memória: organizar, sintetizar, guardar e encontrar o conhecimento).

Entretanto, até aqui, não há nada de novo nesse reino! A partir de um ponto de vista da mente consciente, a qualidade da memória está também relacionada com a capacidade de esquecimento: para guardar o novo é necessário existir espaço nos “armários e gavetas” de nossa mente. Assim sendo, encontrar um ritmo de memorização (segundo propõe a Sugestologia) e conhecer a capacidade de retenção de conteúdos pode ser uma boa maneira de atenuar o estresse (pois o processo de aprender e/ou memorizar também libera hormônios de estresse em nosso sistema orgânico) – mas certamente, na civilização da informação (leia o artigo Santa Ignorância de autoria do Prof. Rubens Queiroz de edição anterior dessa newsletter), memorizar e aprender mais e melhor pode ser conseqüência de esquecer e desaprender mais e melhor! Especialmente aquelas memórias que nos proporcionam estresse.

Além de tudo isso, podemos ainda ponderar o seguinte: quanto mais imprecisa for a sua memória, possivelmente mais criativo você pode ser! Às vezes isso é um problema, isto é, quando estamos discutindo fatos… Porém, se o objetivo for criar, então é uma grande ferramenta. É verdade… A distorção de nossas memórias é algo que contribui para a elaboração de novas formas de fazer e pensar. Você já percebeu que existem pessoas com excelente memória e pouquíssima criatividade e flexibilidade ou que muitas das pessoas mais criativas nem sempre possuem boa memória?

Embora isso não possa ser admitido como uma regra, certamente não deve ser estabelecido como objetivo a ser alcançado: ou boa criatividade ou boa memória, pelo contrário, podemos possuir as duas em excelente performance! Eu estaria na profissão errada se aceitasse aquilo como verdade, dado que minha proposta é exatamente melhorar todas as nossas competências, obtendo melhor desempenho de nossas potencialidades.

Evidentemente a comparação anterior está relacionada com a criatividade de segunda ordem, isto é, a promoção de pequenas mudanças (melhorar ou transformar algo já existente) ou mudanças por analogias (implantar modelos ou conhecimentos provenientes de outras áreas de conhecimento, como por exemplo, o nascimento da Programação Neurolinguística uma poderosa metodologia de aprendizado e comunicação que se originou a partir de um modelo cibernético aplicado ao funcionamento da mente humana – um trabalho extremamente criativo e produtivo de síntese e comparação de idéias).

De forma diferente, a criatividade de primeira ordem consiste em elaborar algo completamente novo e diferente, nunca antes imaginado ou concebido: como, por exemplo, a utilização do vidro, o forno de microondas, internet, etc, embora possam ser criações de grupos de pessoas.

Bem, lembrando-nos da memória outra vez, vamos estender nossa compreensão além da dimensão humana e pensa-la como um atributo da existência ou do universo: talvez você concorde comigo em acreditar que a própria Natureza possui algo que eu possa chamar de memória, isto é: você nunca viu um macaco dar à luz uma maçã! Não, macacos geram macacos e macieiras produzem maçãs… Por idiota que possa parecer essa afirmação, talvez seja algo interessante refletir um pouco sobre ela: existe uma poderosa memória no universo cuidando para que ele se mantenha como o conhecemos (e poderia ser bem diferente!). Antes de prosseguir gostaria de apresentar uma famosa frase de um antigo sábio e filósofo oriental: “Essa noite eu sonhei que era uma borboleta… Agora não sei se sou um homem que sonhou ser borboleta ou se sou uma borboleta sonhando ser homem!”.

A Filosofia nos ensinou que existem diferentes formas essenciais de pensamento e análise: estruturalismo e reducionismo. Simplificadamente, reducionistas são aqueles que ao observar os fatos e acontecimentos buscam simplifica-los e reduzi-los até que se pareçam com algo já conhecido e analisado para poder compreende-los. Estruturalistas são aqueles que buscam analogias, padrões de repetição, e formas ou estruturas semelhantes entre novos e velhos fatos e acontecimentos. Sendo assim, proponho uma questão: ao dizermos que a História se repete, estamos utilizando qual das duas estratégias acima? Seria uma simplificação ou uma busca de semelhanças e analogias? Pois bem, e se eu dissesse agora que a memória se repete?

Prossigamos com mais algumas analogias perguntando sobre a memória da Natureza: o clima e os seus ciclos é uma memória? A evolução das espécies vivas é uma distorção de memória, uma criação (bastante criativa, diga-se de passagem, flexível e adaptável)? Há muitos anos vi um documentário sobre alguns cientistas que buscavam simular as condições primitivas da atmosfera de nosso planeta para descobrir se existia alguma possibilidade ou chance natural para o aparecimento da vida.

Reuniram num experimento de laboratório os hipotéticos gases da atmosfera primitiva nas condições de pressão, ionização e temperatura originais, e descobriram que, após várias horas formaram-se espontaneamente as primeiras moléculas de aminoácidos (“tijolos” fundamentais para a construção da vida orgânica como a conhecemos). Como reza o pensamento científico, um experimento atesta uma verdade se for passível de repetição em qualquer outro laboratório do planeta. O surpreendente foi descobrir que, estatisticamente, o tempo necessário para a reprodução do mesmo experimento em outros laboratórios fora reduzido drasticamente! Em locais diferentes, ocasiões diferentes, a síntese de moléculas orgânicas ocorreu muito mais rapidamente que na experiência original (teria a Natureza reaprendido a produzir tais substâncias?).

Um outro experimento documentado no tempo dos primeiros químicos (alquimistas) foi a cristalização da Glicerina. Foi tentada insistentemente sem qualquer sucesso por inúmeros buscadores durante muitos anos… Quando por fim, um desses pesquisadores conseguiu cristalizar a glicerina, pasme, espontaneamente ela se cristalizou em vários outros laboratórios do planeta! Seria isso um aprendizado ou uma memória da Natureza? As mais modernas pesquisas em Física Quântica têm buscado respostas para algumas dessas perguntas. Como se a própria Natureza possuísse memória e capacidade de aprendizado.

Se você admitir que essas considerações são duvidosas para a Natureza, certamente aceitará que sejam verdades estabelecidas para os seres humanos. No que diz respeito às nossas discussões, devo lembrar do experimento do centésimo macaco: numa das inúmeras ilhas do Japão, na qual jogava-se batatas na praia para alimentar macacos, observou-se que um determinado indivíduo da comunidade de macacos começou a lavar as batatas antes de come- las. Sendo o macaco um animal sociável, pouco a pouco foi ensinando aos seus semelhantes como lavar as batatas para se livrar da areia e da sujeira.

Em várias das ilhas próximas havia outras comunidades de macacos, porém, sem a mínima possibilidade de contato ou troca de indivíduos entre as ilhas por causa da distância e da água. Curiosamente foi descoberto que, quando aproximadamente cem indivíduos da comunidade original do experimento já tinham aprendido a lavar batatas, membros de várias outras ilhas quase sincronicamente iniciaram o mesmo procedimento de higiene!!! Isto é, como se houvesse uma memória pertencente a uma possível mente coletiva (inconsciente) dessa espécie de animais que passaria a servir de referência para os seus indivíduos. Assim como nos seres humanos o conhecimento dos símbolos e arquétipos (memórias coletivas inconscientes) pode nos conduzir para a construção de um modelo de compreensão da mente humana que não depende do tempo ou do local (o chamado inconsciente coletivo) – um depósito de conhecimentos e informações de nossa espécie, disponível para todos, especialmente evidente na linguagem dos sonhos ou na cultura, valores e comportamentos coletivos dos indivíduos.

Enquanto palestrante e educador, observo algo que acontece de uma forma curiosa em meus seminários: em cada turma, por mais diferente que sejam os indivíduos, existe sempre um que é o “engraçadinho”, alguém que faz perguntas brilhantes, alguém que é extremamente tímido… Se lembrarmos dos “scripts” ou programas que se repetem em nossas vidas (idéias propostas em artigo “Os Ritmos e o Conhecimento Interior”) fica mais fácil compreender como tais estruturas inconscientes podem se revelar no mundo objetivo. Você já reparou que você mesmo, dependendo do ambiente, pode ser a pessoa mais quieta ou a mais comunicativa? Isso mesmo, a dinâmica do comportamento humano em grupos também possui uma certa memória (condicionada por diferentes fatores) – uma estrutura arquetípica.

Tive alguns colegas que, em praticamente todas as suas turmas, tinham entre seus alunos alguma pessoas “rebelde” ou insubordinada (“amotinada” como costumo chamar), como se nossas turmas fossem um espelho de nossa própria estrutura arquetípica interior! Por mais esquisitas que possam parecer tais idéias, certamente você já percebeu que professores diferentes fazem com que as mesmas turmas se comportem, tanto individualmente quanto coletivamente, de formas diferentes! As evidências são várias para quem convive com grupos de pessoas interagindo.

Bem… A essa altura talvez você esteja aí se perguntando: mas no que, tais informações podem contribuir para mim? Antes disso, vamos apresentar ainda uma outra peça do quebra-cabeça, um outro experimento bastante revelador: colocaram numa jaula cinco macacos (não parentes dos anteriores), uma mesa e, acima desta, um apetitoso cacho de bananas pendurado no teto (acessível apenas àquele que estivesse em cima da mesa. Entretanto, sempre que algum dos macacos subia na mesa para pegar bananas, os outros quatro recebiam um jato d´água fria de alta pressão (um verdadeiro banho frio). Não tardou para eles descobrirem a relação causal entre subir na mesa e pegar bananas e o banho frio, isto é, que pegar bananas produzia como conseqüência banho gelado, dessa forma os macacos que ficavam embaixo passaram a punir com uma bela surra aquele que se aventurasse a subir na mesa. Passadas algumas surras, nenhum deles mais tentava pegar bananas, embora elas estivessem lá disponíveis ao alcance de qualquer um deles.

Quando esse condicionamento (memória) já estava bem estabilizado, começou a segunda fase do experimento: os cientistas substituíram um daqueles cinco macacos e extinguiram os banhos de água fria… O resultado imediato foi que o novo indivíduo foi imediatamente se servir das bananas e, quando desceu da mesa, levou uma grande surra! Embora não houvesse mais banhos, os macacos ainda surravam quem subisse na mesa. Rapidamente esse novo membro do grupo concluiu que as bananas geravam um grande desconforto e abandonou as tentativas (embora nunca tenha visto uma gota de água sequer). Sucessivamente os cientistas passaram a substituir cada um dos outros quatro indivíduos, um por um, do grupo original (que tinham tomado banho frio e que começaram a aplicar as surras). Até que cada novo membro tivesse aprendido a não mais pegar as bananas e também, a surrar aquele que tentasse subir na mesa.

Quando finalmente todos foram substituídos, observou-se que os cinco macacos presentes na jaula, ainda que nunca tivessem tomado banho frio, mantinham o hábito de surrar qualquer um que tentasse pegar as bananas, e por si mesmo, nenhum deles mais arriscava subir na mesa. Estava assim concluído o experimento de condicionamento. Porém, se lhes fosse dado o discernimento de responder as razões das surras que davam em seus semelhantes quando subissem na mesa, creio que não saberiam responder: tornou-se cultura daquele pequeno grupo surrar quem subia na mesa porque aprenderam isso! Isso é o que chamo de uma memória coletiva (ou, grosseiramente, de cultura).

Assim sendo, creio que devamos ponderar mais profundamente a respeito do interesse de se melhorar nossa memória. Não que não deva ser empreendido um esforço para torna-la mais precisa, mas sim que isso pode promover resultados inesperados! Você bem sabe, o quanto pode ser chata e inflexível uma pessoa que tenha certeza absoluta da precisão de sua memória, que discute, insiste e persiste em fazer prevalecer a sua forma de pensar, nem sempre usando a sabedoria de desconfiar da possibilidade de ter distorcido os fatos. Além do mais, pense em quantas coisas ao longo de sua vida foram esquecidas ou abandonadas para dar lugar a melhores condições, sentimentos, pensamentos mais modernos… Percebe a importância do equilíbrio entre boa memória e boa capacidade de esquecer?

Enquanto praticante e instrutor de Tênis e de Tai Chi Chuan, experiências que constituem a base pessoal do uso das tecnologias que pesquisei posteriormente, observei ainda outras evidências que concorrem para a construção de um novo modelo de compreensão da memória: existem distintos tipos de memória! A memória para movimentos corporais e aprendizados motores é bastante diferente da memória de números ou para informações logicamente estruturadas. Diria até, correndo um certo risco de ser impreciso e sem embasamento conceitual necessário, que talvez existam tantos ou mais tipos de memória quanto as inteligências definidas por Howard Gardner e discutidas no último artigo do Prof. Queiroz: “Você é mais inteligente do que pensa”.

Universos de experiências diferentes possuem qualidades de memória diferentes! No esporte pude observar que o aprendizado conjuga os fatores registrar, transformar e resgatar de uma forma muito elegante. Isso serviu de base para compreender como a memória de um aprendizado, seja ele qual for, evolui no tempo, transformando informações em conhecimentos quando existe a prática e o exercício. Isto é, a excelência no aprendizado e na memória é natural e eficaz quando existe a repetição.

Considerando agora outra questão relacionada com a memória, gostaria de discutir sobre o que vem a ser a técnica: certamente é um conjunto de procedimentos de alta performance, isto é, você só busca aprender a forma de fazer de outra pessoa quando os resultados dela são melhores que os seus! A isso chamamos de técnica, o que não deixa de ser uma memória no sentido mais amplo. No que diz respeito à técnica esportiva, ainda falaria sobre duas diferentes categorias de definições: a técnica de origem estatística e a técnica de origem perceptual, qual delas podemos escolher como melhor para cada um de nós?

De uma forma geral, especialmente no esporte, aquilo que admitimos ser uma boa técnica (que é o conteúdo de aulas de atividades físicas, mas também pode ser compreendido assim em todos os campos do conhecimento), é uma compilação estatística do que os “melhores” (aqueles que dominam um determinado campo do conhecimento) sabem fazer; digamos isso para os cem melhores atletas em cada modalidade esportiva: todos os procedimentos, gestos, movimentos que eles façam em comum chamaremos de “a técnica dessa modalidade esportiva” (admitimos existir razões e explicações para a maior eficácia de suas formas de fazer). Entretanto, se existirem procedimentos, gestos, movimentos que eles façam de formas diferentes, sendo eles os melhores, chamaremos a essas diferenças de “estilo pessoal”. Na prática, essa é a compreensão mais utilizada no esporte, porém nem sempre a percepção e o bom senso são privilegiados nessa maneira de entender o aprendizado.

Tanto isso é verdade que, com o passar do tempo, novas técnicas (formas mais eficazes) transformam-se em objeto de busca e aprendizado das novas gerações: você se lembra quando estava na moda correr três quilômetros por dia como indicação para a manutenção da saúde? O famoso método de Kooper, foi posteriormente repensado e reformulado pelo próprio autor! Ou quando o pai da Reengenharia se retratou de suas propostas quando elas levaram várias empresas a passar grandes dificuldades? Essa abordagem falhou miseravelmente segundo a opinião de vários pesquisadores e empresários, mas já foi uma grande “coqueluche”.

Evidentemente a técnica esportiva baseada na percepção pode não ser a mais comum, mas muitas vezes é bastante mais duradoura. No esporte, significa aprender a perceber os gestos de maior conforto e menor esforço para desenvolver uma coordenação de movimentos mais harmônicos e menos agressivos às articulações, músculos e ligamentos: simplificadamente seria fazer grandes esforços utilizando-nos de grandes músculos e pequenos esforços para músculos menores e mais sensíveis a partir das várias alavancas possíveis graças ao esqueleto (uma ótima metáfora para compreender a gestão de empresas, formação de equipes e processos de alavancagem na aprendizagem coletiva em ambientes organizacionais).

Talvez agora você esteja se perguntando o porquê dessas considerações: o que isso tem a ver com nosso assunto original? Essencialmente porque muitos leitores normalmente buscam técnicas, receitas de bolo e procedimentos simples para solucionar o que pensam ser problemas em suas vidas, no nosso caso, técnicas de memorização que demandariam um esforço a mais de concentração e disciplina. O contexto em que técnicas são construídas são momentos em que a percepção está sendo treinada… E algumas dessas técnicas não funcionam bem sem a percepção treinada.

E depois não entendem a razão de tantas técnicas falharem para si mesmos: porque ainda não compreenderam profundamente que o seu próprio funcionamento pode não ser igual ao de outra pessoa, sendo que o aprendizado de uma técnica deve ser distorcido para se adequar à sua forma de ser, ou seja, a memória (técnica) de outra pessoa só serve para nós se estivermos atentos à nossa percepção para descobrir como utiliza-la melhor. Especialmente porque o tempo necessário para o desenvolvimento de uma nova técnica pode representar uma importante oportunidade de treinamento e desenvolvimento que prepare o indivíduo para apreender uma nova forma de fazer.

Costumo acreditar que tenho uma excelente memória, porém, isso não significa que possa me lembrar de qualquer coisa com precisão a qualquer momento! Mas que ela funciona muito bem para aquilo que gosto e que preciso! Mas sou insistente em afirmar que tenho passado os últimos quinze anos de minha vida mais tempo desaprendendo e esquecendo do que aprendendo e memorizando, pois enquanto busco novos conhecimentos, devo sempre me livrar de condicionamentos, hábitos e critérios antigos.

Não sugeriria técnicas específicas para isso, exceto uma atitude freqüente de admirar a dúvida e me submeter constantemente a novas experiências de aprendizado: quando eu já sabia jogar tênis com a mão direita, resolvi aprender tudo novamente com a mão esquerda. Evidentemente, de tempos em tempos, descobri que tinha me transformado numa pessoa diferente. Assim, caso você não precise de sua cédula de identidade para saber quem é pela manhã, quando acorda, sugiro que faça as mesmas experiências consigo mesmo.

Creio que lidar com a memória de informações possa ser tão importante quanto lidarmos com nossos hábitos e condicionamentos (lembre-se dos cinco macacos, agiam daquela forma apenas por condicionamento, e não mais pelas circunstâncias – não seria útil que desaprendessem?): os mesmos que nos tornam quem somos em nossa cultura, mesmo que não queiramos ser de determinada forma. Sendo assim, desaprender e esquecer podem ser habilidades tão valiosas quando aprender e se lembrar! Especialmente no que diz respeito à nossa evolução (distorção de memórias) enquanto indivíduos e ao legado (memória cultural) que deixaremos para nossos descendentes.

Conclusão

Se, de alguma forma, esse artigo criou várias dúvidas no lugar de certezas, o(a) incitou a alterar pontos de vista ou ajudou a esquecer algumas tensões ou maus sentimentos então, proporcionalmente pode ter aumentado indiretamente seus registros de memória disponíveis! Especialmente num sentido mais profundo: “Quem somos nós?” (Será que você precisa olhar na cédula de identidade para saber que é, pela manhã quando acorda?). Preferimos ser aquilo que nos lembramos ser ou aquilo que temos o potencial de ser? Se sua escolha for mais parecida com a segunda alternativa, então saiba que você, possivelmente, deverá esquecer-se de muitas coisas, desaprender (especialmente preconceitos e condicionamentos que não escolheu possuir) e, principalmente, encontrar [sem um mapa (a memória dos outros), apenas com sua percepção] o seu caminho para expressar-se na plenitude de sua Natureza Interior.

Sugestões

Experimente e busque os mais diversos tipos de diferentes aprendizados (conhecimentos e esportes diferentes, música, poesia, matemática, oratória, etc) para observar como eles transformam e distorcem a precisão de sua memória: isso pode ser a criatividade chegando! ‘Lembre-se’ sempre que nunca devemos confiar cegamente em nossa memória, especialmente porque, mesmo que precisa, ela registra apenas uma versão dos fatos! Possuir uma boa memória, sabendo que esta é apenas uma boa ferramenta, pode criar uma atitude mais cordial para você desenvolver auto-estima, flexibilidade, empatia e criatividade.

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