Excelência

© Walther Hermann Kerth

Quando desejo tratar do assunto da excelência e genialidade humanas, frequentemente começo com algumas perguntas aos participantes das minhas palestras, pedindo para que levantem as mãos quando concordam com minhas perguntas. A primeira delas é: “Quem acredita que criatividade é uma importante competência para a conquista do sucesso neste novo milênio?”.

Em geral, noventa e cinco a cem por cento dos presentes, respondem afirmativamente. Então pergunto: “Quantos de vocês se consideram criativos?”. No Brasil, em geral vinte a cinquenta por cento, respondem positivamente!

“Quem possui uma forma organizada de criar? Isto é, quem é criativo quando precisa ser?”. Quarenta a sessenta por cento respondem que sim. Nos Estados Unidos, as respostas para as últimas duas perguntas não chega a dez por cento!

E quem acredita que concentração é importante para a vida no futuro? A grande maioria responde sim… E perseverança, boa comunicação, boa memória, discernimento, motivação, sensibilidade, flexibilidade, coragem, inteligência, capacidade de planejamento, poder de análise, poder de síntese etc.

Novamente, quase todos concordam que são qualidades essenciais para o sucesso nesta época…

No entanto, nada disso aprendemos na escola! A educação atual nos dá informações estão lá. Somos treinados a repetir como papagaios aquilo que aprendemos, mesmo que já esteja décadas desatualizado! Assim, onde obtemos a formação? Quando desenvolveremos as competências realmente importantes para a escalada profissional?

Pois bem, partiremos de uma pressuposição essencial para desenvolver nossa reflexão: “A Excelência é inerente à condição humana”. Muitas tradições propõem isso. Algumas religiões também. Por exemplo, o cristianismo diz que somos todos filhos de Deus, feitos à sua imagem e semelhança, e que possuímos a sua essência ou chama divina dentro de nós – donde poderíamos concluir que todas aquelas competências do sucesso devessem nos pertencer… Os budistas afirmam que somos todos puros e iluminados em nossa essência.

Porém muitas dessas afirmações são muito enigmáticas e inacessíveis à nossa compreensão quando observamos com detalhe o mundo no qual vivemos… Como pode ser assim se, na prática, o mundo é tão imperfeito e nós, nem sequer, conseguimos reconhecer todas aquelas qualidades em nós?

Mesmo assim, tenho a convicção disso e a ousadia de repetir: “Todos nós somos excelentes, pelo menos em um setor de nossas vidas!”. Se você ainda acha que estou exagerando ou inventando, então leia esta próxima história.

Como palestrante, é comum ser convidado para dar entrevistas. Sejam elas na mídia impressa ou eletrônica, sempre tomo muito cuidado com a linguagem para evitar, na medida do possível, muitas distorções decorrentes do rápido estudo de conceitos tão complexos por parte dos jornalistas.

Não obstante, possuo um estilo circular de organizar o discurso – isso já é mais que suficiente para gerar confusão. Portanto, o cuidado é redobrado quando a entrevista é ao vivo. Chego o mais cedo possível para encontrar e conversar com o entrevistador para que possa aproveitar melhor as perguntas.

Quando as entrevistas são sobre Hipnose, é bastante frequente que a pergunta da pauta que encabece a pauta seja: “O que é Hipnose?”. Essa é a primeira que peço que retirem – estudo essa ciência há mais de trinta anos e, até hoje, ainda não consigo defini-la em poucas palavras (evidentemente, abomino a resposta: “Hipnose vem da palavra grega Hypnos, que quer dizer sono”, zzzzzzz…).

Bem, mais cedo ou mais tarde, nessas conversas prévias com entrevistadores, geralmente algum deles acabam por fazer a seguinte colocação: “Sabe, Walther, estou achando muito interessante esse seu trabalho. Eu mesmo tenho o seguinte problema… Acho que você poderia me ajudar…”.

Comparo isso àquelas consultas que se fazem ao médico quando encontramos um no elevador: “Doutor, eu tenho uma dorzinha aqui, o que o senhor acha que pode ser? Será que é sério? E se…?.

Enfim, numa dessas discussões de pauta para uma entrevista, a jornalista disse-me que tinha uma dificuldade muito séria: “Walther, eu tenho uma p-r-e-g-u-i-ç-a de fazer as coisas…”. Nas empresas, esse problema chama-se procrastinação, onde as empresas perdem milhões ou bilhões em recursos.

Mudei de assunto, sem que ela percebesse, três ou quatro vezes. Quando notei que ela já estava suficientemente distraída daquela questão, perguntei-lhe: “Diga-me uma coisa, afinal de contas, o que você gosta de fazer?”.

Ainda um pouco confusa, precisei repetir a pergunta para obter a seguinte resposta: “Ah, eu gosto de tomar um chopinho com os meus colegas no final da tarde… Gosto muito de dançar e ouvir música. Eu adoro ir à praia no final de semana os nos feriados!”.

Então disparei o “tiro de misericórdia”: “E você tem preguiça de fazer essas coisas?”. Touché!

“Não, não, não!”. Plenamente convicta!

Ela não tinha preguiça de pegar o carro, viajar duzentos quilômetros até o litoral norte de São Paulo no final de semana, “torrar” debaixo do sol e ainda viajar mais duzentos quilômetros de volta!

Ela não tinha preguiça de sair de casa às 23 h, dançar a noite inteira, às vezes, beber um pouco a mais, retornar às 6 h ou 7 h e amargar uma ressaca e uma dor de cabeça no dia seguinte! Também não tinha preguiça de ouvir músicas o dia todo!

Ela não se atrasava nem tinha preguiça de fazer nada daquilo que gostava!

Provavelmente apenas estava no emprego ou na profissão errada!

Repito: “Todos nós somos excelentes, pelo menos em um ambiente de nossas vidas!”.

Assim, todos nós somos excepcionalmente criativos. Pelo menos em uma dimensão de nossas vidas.

Eu não sei onde é que você é muito criativo… Mas garanto que é! Talvez ao desenhar, brincar com crianças, amigos ou animais, dançar, trabalhar, cozinhar, contar piadas, pensar bobagens ou inventar mentiras… Mas é! Em pelo menos um setor da sua vida você é excepcionalmente criativo(a)!

Todos nós temos a concentração de um mestre! E não conheço nenhuma definição melhor de boa concentração do que o estado de atenção de uma criança brincando. Eu não sei em qual universo de sua vida você é assim… Mas sei que é! Talvez quando esteja jogando bola, pescando, namorando, assistindo novela, criando, discutindo, pensando na vida ou dirigindo o carro… Mas tenho certeza de que tem uma excelente concentração em pelo menos um setor de sua vida. Caso contrário não seria capaz de reconhecer este estado mental como valioso ou importante!

Também não sei onde você manifesta uma memória perfeita… Mas sei que a possui! Talvez para se lembrar de lugares, rostos, números, sentimentos, cores, pensamentos, sonhos ou para se lembrar de problemas, transtornos ou ficar remoendo ressentimentos! Certamente possui essa ótima memória!

Da mesma forma com relação a sua comunicação. Talvez se comunique bem com alguns tipos de pessoas ou em alguns locais específicos. Talvez seja com os outros ou consigo mesmo. Mas em algum ambiente de sua vida sua comunicação também é excelente. Seja para agradecer ou para reclamar! Seja na forma de palavras, gestos, caretas ou ações! Lembro-me de uma cliente que todos consideravam totalmente introvertida e quieta, como se não falasse absolutamente nada… Quando a conheci fiquei espantadíssimo com a sua expressividade no olhar – falava através dos olhares muito mais e melhor do que eu através das palavras! Comunicava o que sentia ou o que pensava pelo olhar.

Existe, também, pelo menos um ambiente na sua vida no qual você sempre esteve motivado. Algo que sempre teve sentido e você encontrou razões para fazer ou estar. Esse senso interior de motivo, que brota de forma espontânea nas vidas das pessoas, são um importante referencial de escolhas pessoais.

Assim por diante. Repito: “Todos nós somos excelentes em pelo menos um universo de nossas vidas!”.

Nosso maior trabalho, então, como seres humanos, é identificar tais ambientes nos quais nossos melhores dons se expressem e encontrar algo útil para fazer com eles.

Ou transferir pelo menos parte dessas competências para aqueles outros ambientes nos quais necessitamos de tais habilidades para podermos fazer aquilo que gostamos de fazer… Pense bem, se você não se responsabilizar por fazer aquilo de que gosta… Quem fará isso por você?

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