Otimismo

@ Walther Hermann

Data de Publicação: 20 de Abril de 2017

Sinopse

Este artigo propõe exercícios simples e rápidos de reformulação gradual de hábitos de pensamento que podem gerar pessimismo e/ou desânimo, sem o enquadramento de pensamento positivo ou mais compromissos no formato do que você tem que fazer ou deve.

São experimentos simples que contribuem para encontrarmos e estimularmos bons sentimentos que possam melhorar a qualidade de vida de qualquer pessoa, ateus ou praticantes de quaisquer religiões. De fato, quando pensamos no bem estar, todas elas tratam do amor, da virtude e da paz, embora estejam frequentemente sendo referenciadas para justificar a prática da violência. A violência não está nas doutrinas ou na fé, mas em muitos de seus praticantes.

Contexto

O texto trata de uma rápida reflexão sobre um método simples e seguro de cultivar melhores sentimentos e construir atitudes efetivas de enfrentamento do desânimo e do pessimismo que envolve nosso país, nesta fase de apreensão e baixíssima confiança nos líderes que “escolhemos” para nos governar.

A mudança verdadeira, costumo acreditar, não virá de fora, mas de dentro de cada um de nós.

Só quando amadurecermos, seremos capazes de escolher melhores líderes e exigir deles respeito e clareza de propósito.

Parte da motivação de escrever este texto brotou da constatação de que atualmente, uma parte representativa de nossos clientes dos cursos de inglês e desbloqueio para aprender idiomas (Como Falar Outros Idiomas) buscam tais competências para poderem emigrar. Espanta-me a quantidade de pessoas que querem deixar o país… Eles possivelmente perderão a oportunidade de aprender com tal crise.

Enquanto a mobilização popular para influenciar algumas votações reúne um ou dois milhões de pessoas, programas de televisão que tornam públicas, as vidas privadas, como os reality shows, mobilizam cem milhões de cidadãos, quase metade da população do país.

Portanto este texto é destinado a “carregar a nossa bateria” de esperança e contribuir para construir hábitos saudáveis de higiene interior que nos possibilitem conviver com as sombras que enfrentamos atualmente.

Minha longa vivência com treinamentos, coaching e terapia, me proporcionou uma compreensão do processo de mudança do comportamento humano que pode ser bem compreendida através da seguinte analogia: como é possível remover as impurezas de um copo de água suja?

Há, pelo menos, duas formas de transformar o ser humano, através de abordagens terapêuticas e/ou através de abordagens educacionais. Um terapeuta provavelmente construirá um complexo sistema de filtros através dos quais, passando a água suja, serão removidas as impurezas até alcançar a pureza desejada. Já um educador procurará a torneira de água limpa mais próxima para inserir água pura no copo que, misturada com a anterior, transbordará. Até que tenha alcançado seu objetivo.

Artigo

Como já considerado em outros textos, não sou partidário cego do chamado pensamento positivo, aquele que tenta ignorar ou negar a dor da existência ou os maus sentimentos que nos assaltam com alguma frequência, quando um evento qualquer nos traz à consciência memórias de traumas ainda não solucionados. Digo isso porque também já exercitei durante anos o pensamento positivo e descobri, por mim mesmo, que tal prática apenas adiou o meu confronto com a fonte das minhas dores.

Um dos professores que muito me influenciou nesta última década, John Demartini, conta que teve a oportunidade de entrevistar alguns dos mais famosos representantes do pensamento positivo, tais como Zig Ziglar. Nessa tribo de pensadores sobre o otimismo, podemos ainda incluir Norman Vincent Peale, mais antigo, ou mesmo Martin Seligman, Ph.D., considerado pai da Psicologia Positiva, entre muitos outros.

Sua surpresa foi descobrir que Zig Ziglar era a pessoa mais negativa que tinha conhecido. Martin Seligman confirma o mesmo padrão. O esforço e as estratégias criadas para serem positivos são compensações para enfrentarem o sofrimento de hábitos de pensamento negativo para a maioria deles. Pois quem não funciona assim, nem se preocupa com seus próprios estados emocionais. Paradoxalmente, perseguimos aquilo que mais nos falta! Damos valor àquilo que mais necessitamos.

Portanto, endosso o que acabei de escrever: este texto tem grande relação com minha própria vida e experiências pessoais de escalar a montanha do bem-estar. Isso é consequência da dor e do sofrimento enfrentado ao longo da minha própria vida. Embora o pensamento positivo não tenha funcionado comigo, exceto como paliativo, até que eu fosse capaz de visitar o inferno cuja entrada estava sempre a minha espera, ele foi útil por algum tempo, portanto sou grato à sua contribuição.

Hoje, muito mais experiente, proponho outros recursos para meus amigos e clientes. Algo mais apropriado para os tempos atuais, já que o conhecimento sobre a psique e o cérebro humanos nos possibilita conhecer melhores caminhos para o resgate da unidade interior de cada um.

Tudo isso me levou ao estudo do trauma e de suas consequências para os seres humanos.

Diferente do que acreditei por muitos anos, não são os maus pensamentos descontrolados que devemos combater. Os pensamentos que pensamos são apenas registros de memórias de incontáveis possibilidades de compreender a realidade que vivemos. Eles são fugazes, inconsistentes, temporários e instáveis, exceto quando representam ou expressam sentimentos e “feridas” guardados em nossos circuitos nervosos.

São nossas tensões, sofrimentos, mágoas, ressentimentos, etc., guardados nas memórias de nosso sistema nervoso que dão vida aos pensamentos negativos – por isso eles parecem tão insistentes. E funcionam desta forma até que sejamos capazes de recolher o conhecimento e a sabedoria guardados nestas experiências que ainda não foram suficientemente bem explorados e organizados.

Hoje, depois de muitos estudos e muitas terapias, penso que nosso organismo guarda e mantém memórias com as quais ainda não aprendemos, os sentimentos chamados de negativos. São lutos que não foram feitos no tempo certo, separações que não processamos adequadamente, perdas de entes queridos, fracassos, etc., tratando-se de nossas experiências pessoais. Mas também trazemos mais das dores de nossas famílias que não foram devidamente superadas. Então, por amor e pela inteligência do organismo que possuímos, guardamos tudo aquilo com o que ainda não tínhamos recursos para aprender.

A primeira pergunta que emerge é: “Por que guardamos tudo isso?”. Quero acreditar que haja uma importante sabedoria nesse processo. Creio que nosso sistema nervoso funciona assim pois tal processo nos leva a nos tornarmos humanos! Tudo isso é destinado a nos fazer visitar a realidade que deve ser experimentada para que possamos evoluir como espécie. Enfim, para não nos tornarmos peças de uma engrenagem impessoal de consumo e de insensibilidade diante de nossa real natureza. Penso que isso funcione assim para que não nos percamos em nosso caminho de expansão e crescimento interiores.

Se usarmos o pensamento positivo indiscriminadamente, não eliminamos as memórias de sofrimento ainda não organizadas, apenas as trancamos num recinto fechado e escuro. Tais tensões culminarão com a manifestação de muitos sintomas e doenças que nos trarão de volta, em outras condições, aqueles mesmos sentimentos que insistimos em ignorar: medo, incerteza, insegurança, ressentimento, etc.

Diante deste cenário hipotético, já que ainda pouco sabemos sobre tudo isso, quais seriam as alternativas mais apropriadas nessa fase de nossa evolução?

Bem, se o pensamento positivo, aquele que tenta controlar ou isolar a dor que emerge de nossas entranhas e anima nossos pensamentos negativos, não é um caminho, senão temporariamente até estarmos mais fortes para visitar as sombras, a opção que considero aqui é o otimismo. Não um otimismo simples e cego que distancia as pessoas da percepção da realidade como ela é, mas uma atitude de aceitação da vida como uma oportunidade de experimentarmos a realidade enquanto indivíduos. Explico melhor nas próximas linhas. Vou começar com algumas peças de um quebra-cabeças, depois junto tudo…

Parto de um provérbio popular: “Pessimista é um otimista muito experiente.”

O que se sabe sobre esses hábitos de pensamento chamados de pessimismo, otimismo e realismo é que um otimista vive mais e melhor em tempo de segurança, porém corre mais risco em situações de tragédias – ele está menos preparado. Um pessimista vive menos e pior em condições de segurança, pois está sempre mais tensionado e seu organismo mais sobrecarregado, porém tem mais chances de sobrevivência em situações de risco, pois já antevira tragédias e perigos permanentemente e, em geral, já possui planos de contingência pré-planejados.

Nas raízes do pessimismo ainda existe alguma culpa e certo sentimento de impotência. Há uma generalização que considera que frustrações e decepções com uma pessoa despertam raiva. Se tais insatisfações são consigo mesmo(a), emerge culpa. E se tal desesperança refere-se ao mundo em geral, depressão será a solução. Aqui tratamos do assunto das expectativas que aprendemos a construir em nossas fantasias sobre o que é certo e o que é errado. Esta semente de nossa cultura dualística é parte da raiz do mal que enfrentamos, embora necessário para transpormos esse estágio do desenvolvimento de nossa consciência.

A última peça desse quebra-cabeças é o resultado de uma pesquisa realizada entre aprendizes de boliche que buscavam refinar sua técnica. Todos esses praticantes foram filmados em seus lançamentos da bola e estes filmes foram posteriormente editados e mostrados aos jogadores separados em dois grupos.

Ao primeiro grupo foram mostrados trechos do filme original que continham todos os seus erros e o que deveriam corrigir em suas técnicas. Ao segundo grupo foram mostradas apenas as partes dos filmes que continham tudo o que tinham feito de correto no uso da técnica, ou seja, apenas os seus acertos.

Como você já pode imaginar, os dois grupos de praticantes melhoraram o desempenho e a técnica com esse recurso de poderem ver o que fizeram e serem instruídos. Porém, o segundo grupo, aquele que vira somente os acertos, teve resultados de incorporação das técnicas e melhora duas vezes melhor que o primeiro grupo. Esse experimento nos convida a dar mais atenção ao que funciona do que ao que não funciona, embora possamos enriquecer nossas estratégias destas duas formas complementares.

Joseph Campbell, um mitólogo considerado por muitos um dos eruditos mais espiritualizados do século XX, referindo-se ao drama da existência humana, considera que a vida se constitui de uma longa lista de dores, sofrimentos e perdas aos quais estamos sujeitos em nossas jornadas. Mesmo assim, ainda propõe que é uma grande oportunidade estarmos vivos e nos dispormos a enfrentar tais desafios com coragem, dignidade, satisfação e gratidão.

De fato, sob tal perspectiva, numa cultura competitiva perdemos muitas coisas… Perdemos a infância, a juventude, entes muito queridos (pais, irmãos, filhos, etc.), a boa saúde, o conforto, empregos, negócios, a liberdade, a esperança, sonhos, expectativas, etc., e, finalmente, a própria vida que nos foi dada. Quer queiramos ou não, muitos de nós se tornam especialistas em lidar com tais dores, ou as ignoramos e amortecemos nossa sensibilidade para suportar tais sofrimentos.

Entretanto, apelando para um pouco de lógica, a experiência das perdas é apenas possível para quem tem algo… Se considerarmos que chegamos a este mundo sem nada, de mãos vazias e sem saber absolutamente nada, nem sequer o idioma… E que quando partimos deixamos tudo o que nos restava, até mesmo o nosso próprio corpo… Só nos é possível perder aquilo que nos foi dado!

Lembro-me de uma pessoa de minha família que estava muito revoltada quando perdera seu marido devido a uma doença grave… Antes de nossa conversa, ela nunca fora capaz de reconhecer o presente que a Providência tinha lhe proporcionado de décadas de convívio com uma pessoa que amara profundamente e que, na ocasião, morrera antes dela. Tivera um dos relacionamentos mais nutritivos e felizes, mas não era capaz de agradecer a tal benção.

Então é humano e plausível ficarmos tristes, sofrermos e vivermos lutos pelas nossas perdas…

Mas, tanto do ponto de vista lógico (compensação), quanto da perspectiva da construção do otimismo (melhor saúde mental, emocional e física) isso é aceitável somente se sofrermos tanto com as perdas quanto formos capazes de experimentar a gratidão, a alegria e o êxtase com tudo aquilo que ganhamos ou conquistamos, que foi ou será perdido. Enfim, o resultado final é que apenas ganhamos! Recebemos a oportunidade de experimentar temporariamente uma série de bênçãos, sorte ou como você queira chamar.

Se chegamos aqui sem nada, partimos com a experiência de termos vivido, recebido e perdido. Não sabemos com certeza absoluta se a experiência conquistada será mantida, mas isso é realmente o que recebemos da vida: a oportunidade de experienciar esta realidade que chamamos de vida.

Lembro-me de algumas conversas que tive com um de meus mestres, Bradford Keeney, Ph.D., quando ele mencionava que devia tomar a decisão mais importante de sua vida… Conversas dessa natureza aconteceram algumas vezes, sobre decisões diferentes, em distintas épocas. Levei muito tempo para apreender a lição: o tempo e as decisões mais importantes de nossas vidas são os do presente! O momento atual é sempre o mais importante de todos! Sem ele talvez não exista o amanhã.

Então, pelo menos a título de busca de equilíbrio, tanto quanto experimentar a dor e a tristeza de eventuais perdas, proponho a todos nós o cultivo dos bons sentimentos a respeito de tudo aquilo que possamos chamar de bênçãos, ganhos, conquistas, troféus, etc., tudo de bom que tenhamos oportunidade de receber ao longo desta existência.

Há um mistério na gratidão, pois ela sempre ocorre em, pelo menos, duas dimensões: podemos agradecer tanto àquilo que recebemos da vida (pessoas queridas, patrimônios, conhecimentos, etc.), quanto à experiência que guardamos em nossas memórias por longo tempo daquilo que obtivemos. Tais memórias podem permanecer conosco, ou mesmo com nossos descendentes, mesmo que eles, em si mesmos, já não estejam mais presentes. Assim começamos a cultivar flores em nosso jardim interior, que poderá ser visitado muitas vezes quando quisermos refletir sobre nossos desafios ou resgatar um pouco de energia diante das adversidades.

Há ainda outro paradoxo a considerar, diante das adversidades ou perdas, podemos não somente sofrer com esta dor, mas também sermos gratos pela possibilidade de experimentar tais sentimentos e emoções que nos tomam, além das habilidades, competências e recursos que desenvolvemos para as suportar enquanto crescemos diante destas adversidades.

Na dimensão da experiência, portanto, só existem ganhos e bênçãos!

Minha proposta para a finalização deste assunto é que, caso você pertença a esta tribo dos pessimistas ou revoltados, você invista tanto tempo no bem-estar e no reconhecimento de tudo o que já obteve, quanto tem investido em lembrar da dor e do sofrimento que nos desperta a compaixão por aqueles que enfrentam desafios ainda mais dramáticos.

Na prática, não proponho evitar o desconforto, mas contrabalançá-lo com o exercício de lembrar ou relacionar numa folha de papel, tudo o que já recebeu.

Quando decidi fazer tal exploração, comecei a reconhecer que, por mais dramática ou traumática que tivesse sido minha história pessoal, tinha muito mais a agradecer do que a reclamar. Termino este texto com a sabedoria de um poeta persa da tradição sufi.

O que é veneno? 
Qualquer coisa além do que precisamos é veneno. 
Pode ser poder, preguiça, comida, ego, ambição, medo, raiva, ou o que for.

O que é o medo? 
Não aceitação da incerteza. 
Se aceitarmos a incerteza, ela se torna aventura.

O que é a inveja? 
Não aceitação do bem no outro. 
Se aceitarmos o bem, se torna inspiração.

O que é raiva? 
Não aceitação do que está além do nosso controle. 
Se aceitarmos, se torna tolerância.

O que é ódio? 
Não aceitação das pessoas como elas são. 
Se as aceitarmos incondicionalmente, torna-se amor.

Jalal ud-Din Muhammad Rumi 
mestre persa do séc. XIII

Conclusão

Por mais que nos esforcemos, no estágio atual do desenvolvimento humano não temos controle total sobre nossas vidas, isto é, todos nós estamos sujeitos a uma série imensa de condições e situações de perigo e insegurança. Isso nos lembra de nossa fragilidade diante do destino.

Enquanto muitas doutrinas buscam o controle, minha experiência me leva a aceitar o descontrole como uma forma de desapego e de bem viver. Não proponho isso como uma fórmula para todas as pessoas. Somente a tentativa de obter controle não me levou adiante em minha jornada, e saiba que eu tentei muito!

Mas, se você sofre com os desafios da vida, você pode escolher ler o que escrevi e experimentar minhas sugestões: comece bem devagar dando atenção as coisas que pode agradecer por ter tido a oportunidade de conhecer, experimentar ou conviver. Esta talvez seja uma semente que florescerá. Ela poderá trazer uma profunda reconciliação com sua natureza interior. Esse é um dos caminhos para encontrar mais paz e bons sentimentos, uma forma simples e duradoura de cultivar o otimismo diante das adversidades.

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