Concentração Natural

Por Walther Hermann Kerth

Sinopse

Um mosaico de idéias que possam contribuir para um novo entendimento dos processos de focalização de atenção e estabilização da mente, resultantes de uma atitude de mais compreensão para com os nossos verdadeiros interesses e as ocasiões de boa concentração espontânea.

Contexto

Uma rápida reflexão a respeito de uma das queixas mais comuns das pessoas que vivem em grandes cidades: desinteresse e falta de sentido para aquilo que fazem. Estariam estes relacionados com a falta de concentração? Tanto quanto grande parte das doenças psicossomáticas (aquelas de origem emocional ou psicológica)? Será uma contingência do estilo de vida que possuímos no mundo moderno? Esse artigo não é um conjunto de dicas ou técnicas para melhorar a concentração, e sim, uma revisão do conceito de concentração.

Como educador, sou consultado com bastante freqüência a respeito de necessidades de aprendizagem e dificuldades para lidar com uma necessidade crescente de conhecimento. Como hipnólogo, entretanto, algumas queixas provém de pessoas que possuem boas competências de aprendizado e, no entanto, acumulam sintomas e distúrbios provenientes de gerenciamento do conhecimento, do estresse decorrente de uma quantidade cada vez maior de compromissos e da falta de sentido e significado em toda essa agitação. Percebo, além disso, que existem algumas pessoas muito habilidosas para lidar com o caos do mundo atual… Esse é, portanto, um texto sobre soluções e idéias que possam contribuir para uma nova compreensão das necessidades do nosso mundo.

Artigo

Vamos partir da seguinte observação: meu cachorro nunca se queixou de falta de concentração! Somente ouço esse tipo de reclamações de pessoas que já a tiveram! Creio que não exista melhor definição para o que é uma boa concentração do que o estado de atenção de uma criança ao brincar. Há mestres que passam anos treinando sua mente apenas para resgatar esse estado original de absorção. Esse mesmo estado puro e ágil de focalização, que todos nós já conhecemos e possuímos algum dia, torna-se a “terra prometida” perdida para muitas pessoas.

Assim, para tratarmos desse assunto, devemos levar em conta várias questões vizinhas que considero condicionantes e concorrentes de uma boa concentração. Creio que a primeira delas, já mencionada, é que: TODOS NÓS TEMOS (ou tivemos) UMA EXCELENTE CONCENTRAÇÃO! Em pelo menos um universo de nossas vidas. Essa é uma proposta que repito com freqüência devido à sua importância e ao fato de haverem leitores que não lêem nossos textos em ordem, logo alguns princípios devem estar presentes para dar consistência à argumentação.

Eu, pessoalmente, não sei se você tem excelente concentração para criar, trabalhar, cozinhar, pescar, dirigir seu carro, jogar futebol, costurar, ler, namorar, sonhar, pensar bobagens, ruminar problemas ou reviver suas memórias de bons ou maus momentos! Mas sei que, em pelo menos um setor de sua vida, você conhece esse estado de atenção! Bem, agora então vou recontar mais duas importantes histórias que explicarão melhor como pretendo continuar nosso texto.

Há alguns anos, participei de uma palestra de abertura de um curso de Qualidade Total em que o palestrante, a certa altura, questionou a novidade dos assuntos que expusera até então. Em seguida, afirmou que, de fato, tudo o que tinha dito não possuía nada de novo, exceto talvez o estilo próprio de apresentação das idéias e conceitos. Além dos conteúdos serem bastante comuns e repetitivos, geralmente, também as formas de apresentação estão usualmente apoiadas sobre os mesmos paradigmas didáticos: “Falar sobre…”. Então ele começou a descrever uma longa lista de etapas a serem trabalhadas nos programas de qualidade e o que “deveria ser feito” para que os participantes, empresários e executivos, conquistassem tais resultados.

Nessa, e em tantas outras palestras, ouvi, repetidamente, conjugações verbais muito conhecidas de nossa cultura: “… tem de ser assim…”, “… tem de fazer assim…”, “… deve estar daquele jeito…” etc. E todos aqueles profissionais retornam para tais cursos regularmente para se atualizarem, entretanto nunca colocam tais proposições em prática!

Certa vez, iniciei uma palestra sobre gerenciamento do estresse, elaborada para um grupo de jovens empresários, com um l-o-n-g-o s-i-l-ê-n-c-i-o. Imaginem: estresse geral! Então pude trabalhar in loco: seria uma experiência prática. Um dos participantes abriu um jornal durante aquele silêncio. Secretamente me perguntei: “O que esse senhor está fazendo aqui? Ele sabe muito bem gerenciar as próprias tensões interiores!”. Evidentemente, para um grupo dessa natureza, certamente nada adiantaria eu ministrar uma palestra teórica com mais uma longa lista de procedimentos para que aqueles jovens empresários pudessem, além da agenda lotada e dezesseis horas de trabalho diárias (possivelmente), exercitar técnicas de relaxamento para se verem livres dos sintomas do estresse.

De outra feita, numa palestra sobre identidade e auto-imagem, abri o evento dizendo que eu não era eu! Ou seja, eu não era o palestrante que deveria estar lá. Era, sim, um amigo deste, era um palhaço de profissão (um animador) avisado em cima da hora para ocupar o tempo daquela palestra cujo palestrante estaria ausente. Imagine! Decepção geral: então pude lhes contar que tinha mentido e que quaisquer frustrações que desejemos ter, devem ser previamente muito bem planejadas. Caso contrário, não saberíamos bem exatamente quando senti-las! Com isso, quero dizer principalmente que não pretendo falar sobre concentração, e sim, despertar uma nova compreensão sobre a natureza dessa importante competência da nossa consciência.

Atualmente existem incontáveis livros de auto-ajuda tratando do assunto chamado “poder pessoal” e congêneres. Nestes textos você certamente encontrará várias técnicas de treinamento da vontade, da atenção, da concentração, etc. Porém, se levar em conta que o baixo poder de concentração também pode estar relacionado com o estresse, rapidamente concluirá que todas essas preciosidades serão muito pouco úteis pois, assim como a palestra de gerenciamento de estresse para jovens empresários, estaríamos tentando curar o mal com o mesmo veneno: o excesso de compromissos! Nunca se venderam tantos livros que, em oitenta ou noventa por cento dos casos (segundo estatísticas do perfil do leitor brasileiro), permanecem fechados por falta de tempo para serem lidos! Portanto, não vou “chover no molhado” discutindo mais técnicas.

Em segundo lugar, você deve saber que pode ser muito bom buscar alguma forma de desenvolver a sua própria concentração! Entretanto, o desenvolvimento deliberado de suas faculdades mentais, emocionais ou psíquicas de uma forma não natural, isto é, proporcionada pela própria vida e sua sabedoria em nos ensinar, possivelmente trará juntamente com seus benefícios, algumas “sombras” como subprodutos agregados! Basta você avaliar por si mesmo, quantas pessoas, que você mesmo conhece, não se tornaram meio esquisitas ou estranhas, desenvolveram algumas manias ou se afastaram do convívio com os amigos depois de se envolverem com métodos ou escolas de desenvolvimento psíquico ou mental?

Portanto, considero bastante importante que levemos em conta essas possíveis “sombras”, presentes no caminho daqueles que escolhem o desenvolvimento da mente, quando ainda não estão suficientemente disponíveis para tal jornada. Os subprodutos negativos mais comuns desses treinamentos da vontade e da atenção podem incluir: agressividade, impaciência, ansiedade ou angústia, desinteresse, compulsões e manias, além de alguns sintomas físicos.

Em terceiro lugar, devemos saber que a concentração de um atleta (ou de um guerreiro) pode ser um tanto diferente, em sua forma, daquela de um sábio. Isto é, se lembrarmos que em cada estágio de nossas vidas, vivemos diferentes papéis e expressamos múltiplas formas de ser (arquetípicas), facilmente concluímos que o hábito e o amadurecimento podem transformar o esforço de concentração num interesse natural e genuíno chamado “motivação”!

Desejo dizer aqui que a concentração de um “guerreiro” (refiro-me às experiências de vida em que lutamos com o mundo, independentemente da atividade e da profissão, isto é, quando há algo a conquistar ou enfrentar em nossa vida de ocidentais, pois um guerreiro busca realizar seus objetivos através do esforço, disciplina, obstinação e dedicação exclusivos) pode ser bem distinta da concentração de um “mestre” (também uma figura simbólica ou, se você preferir, arquetípica), que pode obter seus resultados e objetivos com um esforço racional e inteligente, apenas conjugando melhor as forças que possui à sua disposição, com economia e paciência, sabendo esperar a oportunidade adequada para cada intervenção na realidade.

Nessa perspectiva, uma das possíveis formas de desenvolvermos maior concentração seria buscando mais momentos de descontração! Você já observou que quando descansa muito, espontaneamente brota uma vontade maior entrar em atividade ou de fazer algo? Certamente essa é uma conclusão um tanto óbvia, porém pouco útil para a vida moderna! Mas certamente também é uma alternativa inteligente pouco utilizada por aquelas pessoas estressadas que se queixam insistentemente de falta de atenção. Se você é uma dessas pessoas, já deve ter notado que seu interesse é bastante maior depois de umas boas férias em que teve oportunidade de descansar ou que sua atenção pode ser melhor após uma excelente noite de sono bem dormida! Óbvio!

Depois dessa introdução e contextualização, vamos agora fazer uma analogia que possa nos dar uma nova luz sobre esse assunto. Como eu já comentei em outros artigos, creio que o nosso mundo exterior (fenomenológico) seja um reflexo preciso daquilo que ocorre em nosso mundo interior… Vamos então observar a concentração através de um modelo no qual, talvez, possamos confundi-la com a motivação! Sem perder de vista que a confusão, como já disse tantas vezes, é a mãe da criação, isto é, tanto a dúvida como a incerteza dão espaço para o nascimento de algo novo e criativo! Creio que nada de novo e revolucionário pode germinar onde existem apenas certezas e regras rígidas.

Pensando dessa forma, buscarei encontrar algum vínculo entre a concentração e a motivação. Portanto, vamos começar com uma pergunta: quais você considera serem as principais qualidades de um time vencedor? Seja um time esportivo (futebol, vôlei, basquete, etc), uma escola de samba, uma orquestra, uma empresa ou um país, o que existe em comum entre aqueles que são bem sucedidos? Creio que as respostas incluam motivação, técnica, sorte, determinação, entre outras. Certamente, além dessas, eu incluo sinergia, coordenação e objetivo comum. Todos sabemos que se apenas alguns membros, sejam de um time ou comunidade, estiverem empenhados em um empreendimento ou uma tarefa, o efeito sinérgico de tal equipe não é obtido e os indivíduos sobrecarregados, mais cedo ou mais tarde, colapsam ou abandonam o falso time! Isso, entretanto, não significa que todos os membros de um grupo ou time tenham as mesmas funções ou tarefas, todos devem trabalhar de uma forma coordenada e integrada para que o conjunto opere harmonicamente em busca do objetivo pretendido.

De forma semelhante, aquilo que chamamos de atenção focalizada ou boa concentração não inclui uma absorção tão intensa que seu coração ou sua respiração devam parar! Não, seu corpo deve estar em pleno funcionamento coordenado para que você possa escolher, consciente ou inconscientemente, utilizar suas forças disponíveis e resultantes de um funcionamento orgânico satisfatório na realização de sua tarefa ou objetivo. Para isso existe o nosso “Administrador Interior” (sistema nervoso autônomo), cuja função é coordenar todo o nosso organismo e suas partes e mantê-lo funcionando harmonicamente, o mais independentemente possível de nossas atividades humanas. Embora possam existir experiências ou tensões emocionais, mentais ou psíquicas que interfiram nessa hierarquia e, dado à uma intensa concentração em alguns casos ou problemas, possam comprometer o trabalho e a organização de nosso “Administrador Interior”.

Para ilustrar melhor como esse conjunto de “interesses interiores” (que são mais produtivos caso estejam coordenados – isto é, sinergicamente orientados – ou menos produtivos caso estejam em conflito) condicionam nossa concentração, desempenho ou motivação, vamos admitir inicialmente que a “democracia” seja uma péssima solução para o nosso organismo, suas partes e suas células. Pois é um “regime de poder” no qual podem existir até quarenta e nove por cento de insatisfeitos e potenciais sabotadores! Gosto muito desse exemplo, pois observei em mim mesmo e em vários atletas que treinei, que suas habilidades de concentração estavam também relacionadas com o grau de estresse nos treinamentos, isto é, quanto mais tensos e extenuantes eram os treinamentos, menor a habilidade de se concentrar na prática dessa determinada modalidade esportiva – como se indicassem uma grande queixa ou reivindicação do próprio corpo pedindo descanso ou mais respeito pelos seus limites!

Além disso, os conflitos que interferem no poder de concentração podem ter outras origens, como nesses dois exemplos que vou descrever a seguir. Foram dois casos bastante ilustrativos de alunos dos meus cursos de desbloqueio para o aprendizado de idiomas estrangeiros, em especial a língua inglesa (“Domesticando o Dragão”). Um deles residira nos Estados Unidos por vários anos com toda a sua família e afirmava que, se um dia falasse bem a língua inglesa, então ficaria definitivamente morando nos E.U.A.! Posteriormente, durante sua participação no treinamento, concluiu que a grande dificuldade de falar corretamente o idioma estava associada a essa afirmação, isso porque no fundo de seu coração, desejava voltar ao Brasil – nesse caso sua dificuldade de aprender era um sistema de segurança que garantia o seu retorno, conforme seus interesses mais íntimos! Somente quando dissociou esses interesses conflitantes um do outro (falar bem o inglês e morar definitivamente no exterior) é que começou a melhorar o seu conhecimento da língua inglesa, isto é, seu bloqueio era um guardião de seu desejo de viver no Brasil.

O outro caso era de um jovem executivo, muito bem sucedido profissional e familiarmente que, no entanto, não conseguia superar o desafio de falar inglês fluentemente, embora estudasse a língua já há vários anos! Ele sempre afirmara que assim que estivesse falando fluentemente o idioma, se mudaria para os E.U.A. por alguns anos para enriquecer sua carreira. Sua esposa também possuía uma carreira promissora e ascendente, porém não desejava tal mudança de país! Desta vez, o bloqueio de aprender inglês era resultado de um interesse mais profundo e genuíno que priorizava a unidade familiar. Quando por fim, descobriu tal tensão interior, e que poderia aprender a língua inglesa sem necessariamente mudar-se de país (e portanto, manter o casamento), pôde aprender com facilidade!

A partir desses exemplos tão comuns, gostaria de admitir que a nossa estrutura interior de vontades e interesses possa ser comparada com o jogo de forças e interesses observados numa empresa, comunidade ou família, compostas de vários indivíduos (que chamarei de subpersonalidades) e intenções (diversas camadas sobrepostas de interesses, desejos e vontades). Tal multiplicidade de identidades, para fins ilustrativos, podem não estar de acordo com algumas de nossas escolhas conscientes, especialmente quando são adotadas como resultados de condicionamentos culturais ou hábitos muito antigos, isto é, sem alguma referência aos seus próprios sentimentos! Dessa forma, já encontrei incontáveis adolescentes reclamando de falta de concentração! Nem todos competem por desejarem visceralmente isso, em muitos casos são estímulos de pais frustrados que projetam nos filhos seus sonhos de atletas vencedores! Em outros casos, como já disse, porque os treinamentos são tão duros e invasivos que seus corpos são prejudicados ou desrespeitados durante os treinamentos ou competições em busca de melhor desempenho.

A essa altura, creio que já tenha ficado evidente que quando desenvolvemos a concentração através do esforço ou do treinamento obstinado, a natureza de algumas das “sombras” que alimentamos consiste freqüentemente dos “excluídos” (“renegados” e “ignorados”), sub-identidades de nossa própria existência interior! Em algumas abordagens ou técnicas de treinamento interior, tais “forças” são tratadas como se fossem alienígenas ou estranhas ao objetivo, aumentando ainda mais uma possível cisão interior! Nesse sentido, em favor de nos habilitar a escolher doutrinas ou técnicas de desenvolvimento pessoal, considero que não existe melhor avaliador de qual caminho devemos escolher do que os nossos próprios sentimentos, desde que saibamos ser sinceros com eles!

Essas sub-identidades são bastante perceptíveis em suas solicitações ou manifestações especialmente naquelas ocasiões em que temos uma grande decisão a tomar e que, no entanto, temos muitas dúvidas a respeito: sendo que cada uma das alternativas está, em geral, bem fundamentada por uma argumentação conflitante. Por exemplo, talvez eu queira tomar uma decisão e tenha uma entre três possibilidades para escolher: minha razão crê que o certo seja escolher a primeira solução… mas meus sentimentos não concordam com isso e preferem a segunda alternativa… ainda assim minha intuição aponta para a terceira! Como tomamos uma decisão dessas? Quem sabe seja casar ou comprar uma bicicleta… Seja comprar ou não algo… Ou mesmo escolher um novo emprego! Perceba que quando estamos vivendo tal confusão e tensão, que antecedem uma grande decisão, em geral, ficamos naturalmente bastante aprisionados (concentrados/confinados/absorvidos) nesses sentimentos, dúvidas ou pensamentos!

Especialmente nessas ocasiões, há uma determinada forma bastante respeitosa, diplomática e sábia de tratarmos de alavancar esses estados espontâneos de absorção, e conseqüentemente, aprimorarmos nossa concentração. De fato, é uma alternativa bem mais trabalhosa, porém de menor esforço e tensão, também é mais lenta e mais natural e, certamente, muito mais duradoura!

Para compreender as condições de tal “negociação interior”, vou lançar mão de uma interessante analogia: existe um modelo de gestão empresarial que nos indica uma solução para lidarmos com os conflitos de interesses de uma forma criativa que é chamado de Sociocracia (inspirado por Gerhard Endemburg, holandês, ex-proprietário de uma bem sucedida empresa familiar de eletrotécnica pesada) que desejou criar uma empresa sem dono, excluindo a si mesmo do comando, da propriedade e da responsabilidade de seu negócio original!

Depois de muitos estudos e consultorias jurídicas, que lhe permitissem adequar suas idéias à Constituição Holandesa, implementou esse sistema de gestão que possui menos níveis hierárquicos e no qual há círculos de decisão e poder cujos participantes possuem voto com peso unitário. O importante para nossa reflexão é que cada decisão era sempre tomada ou por apoio ou por consentimento, isto é, se pelo menos um membro de cada círculo de decisão não concordasse com um projeto ou idéia, seu voto seria respeitado e inviabilizaria tal projeto desde que explicasse suas restrições. Isso porque o sucesso dessa empresa, sem sombra de dúvidas ou motivações pessoais, era interesse de todos (lembre-se que não havia um dono, logo todos eram donos!). De fato, todos viviam daquele negócio e eram co-responsáveis pelo seu sucesso ou sobrevivência.

Assim, qualquer que fosse a restrição, se bem argumentada, garantiria o retorno do novo projeto à mesa de planejamento ou cálculo até que essa restrição fosse considerada, criativamente adaptada, solucionada ou incorporada ao plano. Esse processo adaptativo e criativo se estenderia até que se obtivesse, pelo menos, o voto de consentimento para a implementação do novo negócio. Evidentemente, como qualquer outro modelo de gestão, essa empresa passou por algumas crises, nas quais a coerência e a confiabilidade do sistema foi testada e consolidada e seus princípios de autoridade validados. O que se observou de mais significativo, entretanto, é que a capacidade criativa e de aprendizagem organizacional de tal empreendimento mostrou-se à prova de tiranias, já que cada membro da empresa, desde o chão de fábrica até o círculo de poder mais elevado, estava sinergicamente empenhado em garantir a sobrevivência desse organismo cujas células eram seres humanos! Todos livres para expressão, respeitados e contemplados em suas colaborações.

De fato, diferentes camadas de interesses observáveis dentro de nós mesmos condicionam distintos graus de disponibilidade para a realização de objetivos. Se você admite que não consegue se concentrar adequadamente em determinadas atividades, certamente percebe que está naturalmente concentrado em outra! Não seria possível utilizar isso a seu próprio favor?

Uma sugestão para alinhar esses diversos níveis de interesse que estejam em conflito é descobrir aspectos transcendentes que possam congregar tais sub-personalidades! O exemplo mais conhecido foi apresentado por um grande “guru” e pensador dos negócios, Peter Drucker, que contou que certa vez um sujeito aproximou-se de três trabalhadores que esculpiam e cortavam pedras e perguntou um de cada vez: – “O que você está fazendo?”. Obteve as seguintes respostas: – “Eu estou trabalhando para ganhar algum dinheiro!”; – “Eu estou fazendo o melhor trabalho de corte e encaixe de pedras de todo o país”; – “Eu estou construindo uma linda e enorme catedral!”.

Embora a tarefa deles fosse a mesma, o seu significado era bastante diferente! Tais artifícios podem solucionar ou contemporizar conflitos aparentes de interesses que possuam, em essência, benefícios comuns, seja para o time, para o conjunto, para o indivíduo ou para a empresa (pois, admitimos inicialmente que, enquanto sub-partes de um todo, todos estão empenhados no bem maior).

Conclusões

Seja lá quantas teorias possam ser criadas sobre a concentração, não creio que alguma possa ser mais atraente do que a experiência pessoal de absorção em determinados estados de consciência correspondentes aos nossos estados de excelência! Aqueles estados nos quais o tempo flui de uma forma mais rápida e nós nos sentimos excitados, criativos, produtivos e felizes. Quando isso acontece, podemos desfrutar de uma considerável coerência interior, isto é, a inexistência de conflitos significativos ou, se formos abençoados, uma profunda sinergia inconsciente!

Há entretanto, alguns tipos de atividades que podem nos proporcionar um espectro mais amplo, uma quantidade maior de “estações” mentais ou emocionais (leia mais sobre isso no artigo “Sintonia” publicado nessa “newsletter” no mês de junho de 2002). Tais atividades ou práticas, em geral, expandem nossa consciência, embora possam exigir uma considerável dedicação e tempo de prática. Incluo nessa categoria as diferentes escolas de mentalismo, misticismo ou práticas tais como Yoga, Tai Chi Chuan, Eutonia, Biodança, entre outros. Entretanto, lembre-se sempre que a mão que nos ajuda pode ser a mesma que nos segura!

Sugestões

Considero como uma das melhores formas de desenvolver uma boa concentração de uma forma natural a dedicação deliberada a alguma atividade que proporcione muito prazer: um “hobbie”, seja lá o que for. Quando estiver então absorvido em tal atividade, observe (se conseguir se lembrar) como você se sente e se comporta! A partir dessa constatação, escolha pelo menos um horário diário ou semanal em que você possa treinar essa auto-observação de seu estado mental, físico e emocional durante tais atividades.

Outro grande focalizador de consciência é o aprendizado de algum instrumento musical, especialmente se você gostar de música! No meu caso particular, eu aprendo a tocar bateria apenas com essa finalidade! Talvez pintar, dançar, velejar, fazer esportes sem grande esforço, etc. Escolha sempre algo que possa estimular ambos os hemisférios cerebrais, e não apenas exercícios mentais que exijam esforço de concentração. Se você nunca consegue boa concentração em seu trabalho, então talvez esteja na hora de reavaliar sua carreira profissional – será que é exatamente isso que você deseja fazer pelo resto de sua vida? Caso sua resposta, bastante sincera, seja negativa, então saiba que uma nova profissão já é possível de ser adquirida em um ou dois anos de dedicação. Sugiro que se estiver disposto a fazer tal troca, escolha aquela atividade em que consiga um bom grau de concentração sem esforço, aquela em que o tempo passa bastante rapidamente, para investir nela e torna-la uma nova profissão.

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