Medo

© Walther Hermann Kerth

Sinopse

Uma rápida reflexão sobre os nomes inadequados que associamos a algumas percepções interiores e que, graças aos nossos preconceitos e julgamentos precipitados, transformam algumas qualidades em fantasmas ou inimigos virtuais!

Contexto

Por não sabermos e por repetirmos aquilo que aprendemos, muitas vezes transformamos algumas de nossas identidades inconscientes em verdadeiros vilões. Isso talvez seja conseqüência de vivermos numa época na qual a ciência ainda não tenha desvendado o conhecimento interior e também porque as religiões ocidentais raramente oferecerem uma mitologia coerente com a vida em que vivemos, ou seja, vivemos sem direção pois está temporariamente estabelecida uma grande lacuna na compreensão da natureza humana; talvez, fatos que nos levem freqüentemente à terapia: o desconhecimento de quem somos. No entanto, todas essas respostas estão muito mais perto de nós do que sejamos capazes de acreditar!

Artigo

Todas as vezes que um atleta me pergunta como lidar com o medo, faço-lhe algumas perguntas: “Como você sabe que está com medo? Como você sabe que aquilo que sente é medo?”. Na verdade, não tenho certeza se aquilo que você sente é medo. E se não fosse medo, o que seria? Talvez alguém responda que sabe que está com medo pelas sensações instaladas no próprio corpo. Então ainda repetirei a pergunta: “Como você sabe que isso é medo?”.

Quero contar a vocês uma história a respeito da época em que eu competia. Lembro- me da primeira vez que entrei em uma competição: minha modalidade era Tênis. Já praticava há mais de um ano e estava muito interessado em competir. Havia treinado muito. Além do treinamento técnico, corria, fazia musculação, pulava corda, nadava, estudava tudo que aparecia pela frente em relação ao assunto, assistia e analisava todos os jogos pela televisão: era o que se podia chamar de fanático.

Naquele primeiro jogo de torneio, eu estava pronto para entrar na quadra pelo menos com uma hora de antecedência. E estava sentindo várias sensações em meu corpo. Não eram habituais aquelas sensações, logo, não me sentia muito à vontade. O local do jogo era no mesmo clube que eu freqüentava, logo, estava rodeado de conhecidos. Todos sabiam que era a minha primeira vez! Alguns me perguntavam se eu estava nervoso ou com medo, ao que eu respondia: “Estou sentindo uma série de coisas. Isso é medo? Isso é nervosismo?”. Eles respondiam que sim. E eu acreditei…

Quando, de fato, entrei na quadra para o aquecimento e o jogo, me sentia ainda um pouco mais estranho. Comecei o jogo após o aquecimento jogando muito bem. Muito bem! Até a metade do jogo, realmente dominei a partida. Curiosamente, da metade para o fim não consegui jogar mais nada. Perdi. Quando saí da quadra, meus amigos vieram me consolar. Comentavam que eu tinha começado tão bem que eles nem acreditavam como pude jogar tão mal em seguida. Na verdade, talvez, não acreditassem como eu tivesse começado tão bem!

Durante algum tempo, esse problema se repetiu muitas vezes. Até que resolvi tomar uma providência: comecei a estudar técnicas de relaxamento. Quando comecei a praticá- las, muitas coisas mudaram: chegava mais cedo, preparava-me no vestiário e, antes do jogo, fazia um relaxamento. Propriamente, entrava na quadra me sentindo muito bem, todo “zen”. Porém, invariavelmente perdia o jogo por sequer ver a bolinha. Tudo era muito rápido, e não conseguia entrar no ritmo do jogo a tempo! Essa fase durou mais algum tempo, até que comecei a entender o que ocorria.

Pense comigo: somente é possível que você esteja lendo este ensaio pelo fato de todas as outras funções biológicas necessárias para que você tenha sua consciência focalizada na leitura estarem sendo cumpridas, independentemente de sua vontade consciente. O seu coração pulsa, seu pulmão oxigena (e respira), seu sangue flui, todas as reações químicas dentro de seu corpo acontecem etc. Tudo isso como se houvesse “alguém” dentro de você administrando toda essa fabulosa máquina para ser possível a você escolher em que quer se concentrar! A esse alguém passei a chamar Administrador

Interior. Você alguma vez já havia imaginado isso?

Pois bem, esse alguém muitas vezes se desdobra em esforço e energia para conseguir proporcionar tudo o que queremos e não queremos de uma maneira muito natural e inconsciente. E tudo isso 24 horas por dia!

Naquela época eu não percebia que aquilo que sentia eram, na verdade, mensagens do meu Administrador Interno. Tinha dado os nomes de medo e nervosismo para as sensações que sentia na ocasião dos torneios. Culturalmente, todos sabemos que sensações e emoções como medo, raiva etc. são muito negativas. Isso fazia com que, em competições, eu ficasse muito preocupado com coisas que não achava certo sentir. Todo o meu foco de atenção voltava-se para dentro de mim mesmo. É obvio que não conseguiria me concentrar no jogo como achava certo. E se não fossem medo, raiva etc., que tipo de mensagens do nosso Administrador Interior poderiam ser?

Levei muito tempo para descobrir isso. Hoje tudo é diferente. Sei que todas aquelas sensações que sinto em alguns momentos são mensagens do meu Administrador Interno, dizendo: “Você treinou bastante. Está preparado. Aqui está toda a energia de que disponho para que possamos cumprir aqueles objetivos que nós tanto almejamos. Preste atenção, essa quantidade extra de energia disponível produzirá sensações diferentes.

Não se preocupe, é coisa boa. Vamos adiante!”.

Como você sabe que é medo aquilo que sente? Um dia você deu um nome às sensações. Será verdade? Pergunte a pessoas diferentes como elas sabem que estão com medo. Provavelmente dirão que sabem disso através do que sentem! Pergunte então quais são essas sensações e você perceberá que pessoas diferentes possuem sensações diferentes. Então, como se pode dar um único nome a sensações diferentes?

Pense nisso e divirta-se mais da próxima vez que sentir coisas que possam ser muito boas!

Conclusão

Mantenha o hábito de duvidar das soluções que você encontrou para lidar com as suas dificuldades. Muitos dos problemas que possuímos não são verdadeiramente obstáculos, mas sim as soluções para desafios que desconhecemos. Essa é uma das mais modernas abordagens terapêuticas disponíveis. Se você confiar em sua mente interior adequadamente, pois certamente ela é (em minha compreensão) muito mais inteligente e sábia do que você pode imaginar, certamente a maior parte de suas manifestações serão sinalizações e formas de orientação de como comportar-se melhor, conduzindo-o a uma vida mais plena de bons sentimentos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *