Um salto à frente no aprendizado de línguas: Aprendizagem Acelerada de Línguas

© Walther Hermann Kerth

Sinopse

De uma forma um tanto caótica (circular) e incompleta, esse artigo tem a finalidade de apresentar algumas questões relacionadas ao mito da dificuldade de se aprender alguma língua estrangeira. Estatisticamente, o grau de sucesso dos cursos de idiomas em entregarem aos seus clientes aquilo que prometem é extremamente baixo! Talvez você concorde comigo em acreditar que os métodos convencionais de aprendizado “viraram de ponta-cabeça” o processo natural observável numa criança que aprende o idioma materno. Essa e outras contradições aqui comentadas indicam a necessidade urgente de buscarmos novas alternativas de ensino e aprendizado.

Contexto

Esse artigo constitui o primeiro esboço de idéias, ainda desordenado, que deu origem ao livro “Domesticando o Dragão – Aprendizagem Acelerada de Línguas Estrangeiras”. Se o artigo não apresenta as técnicas utilizadas no curso que deu origem ao livro, é apenas porque sua descrição aqui fugiria do verdadeiro apelo do livro: que é uma grande mudança de paradigma de aprendizagem e, portanto, que demandava uma revisão da filosofia e dos conceitos que norteiam o ensino convencional de idiomas estrangeiros.

Artigo

Muitas e muitas vezes, em nossa vida, escutamos coisas e frases que nos despertam a curiosidade, porém, na maior parte das ocasiões, o conteúdo é tão distante de nossas realidades e percepções que nos contentamos em reproduzi-las e passá-las à frente sem maiores esforços e considerações. Uma desta crenças populares diz que o ser humano de nossa época, em geral, utiliza-se de apenas 15% de sua capacidade física e 5% de sua capacidade mental, em média. Desconsiderando-se a precisão destes índices, resta-nos somente a percepção: -“Como seria bom se pudéssemos…”

No meu caso particular, observo que talvez, exagerando um pouco, eu tenha passado os últimos dez anos desaprendendo coisas (resgatando a linguagem das percepções, desestruturando e desarticulando pré-conceitos e preconceitos). Trabalho de paciência (teria me expressado melhor se dissesse “trabalho de chinês” ao projetar a ênfase neste significado, mas isto é preconceito, ou talvez, pré-conceito).

Ainda esta última observação pode produzir ressonância em algum leitor mas, em essência, só será curiosa para os peregrinos de tal estrada. O interessante, de verdade, são alguns dos resultados de tal jornada – afinal de contas uma longa formação em ciências exatas deveria servir, no mínimo, para definir distâncias, tempos, e avaliar, na prática, resultados mensuráveis. Algumas incursões no estudo de Geologia poderiam ter deixado outros vestígios: a habilidade de construir mapas para que outros possam encontrar a trilha.

Assim, apresentado o meu próprio perfil, fica fácil entender o significado de estudar estratégias de aprendizagem. Um compromisso pessoal com o aprendizado cada vez mais fácil e mais rápido. Essencialmente, esta é uma característica humana: observe uma criança e perceba como ela coleta impressões do ambiente. Se você se dispuser a este exercício, perceberá o quão rápido entrará em estado de devaneio e resgatará lembranças de suas oportunidades de experimentações. Agradeça seu coração. Ele, certamente, anseia com vigor por oferecer a você muitas evidências de que você pode ter aprendido muitos limites e, isto sim, possivelmente retarda sua habilidade de aprender fácil e naturalmente.

Basta apenas alguns momentos. Você poderá ser agraciado com algumas impressões que darão sentido não só cognitivo à seguinte oração: -“O ser humano aprende cada vez mais fácil e mais rápido, a não ser que tenha aprendido muitos limites”. “Touché”!!

Uma outra estória interessante de aprendizagem rápida tive oportunidade de observar neste ano que passou (1.996). Voltando para casa num domingo à noite, atravesso a Av. Paulista, muitas vezes, por dentro do Metro. Lá havia um cartaz divulgando uma palestra sobre Síndrome de Pânico. Seria na segunda-feira, o dia seguinte, às 19 horas, na Câmara Municipal. Ótimo, fui lá para ver.

De imediato percebi algo que, para mim, era bastante estranho: seria realizada no oitavo andar e começou com 45 minutos de atraso! Eu não sofri com isso… Durante a espera tive oportunidade de um longo bate-papo com um conhecido, jornalista. Porém, fiquei pensando como estariam se sentindo alguns portadores da síndrome que porventura estivessem lá. A resposta não tardou. De fato, mesmo antes de iniciar o evento que reuniu aproximadamente 200 pessoas, uma senhora, sentada à minha frente, virou-se para nós e disse estar interessada em nossa conversa, cujo assunto era uma outra forma de entender a manifestação (ou seria expressão?) da síndrome. Esta senhora, que havia sido levada por duas moças (uma, acredito, era sua filha), não queria mais permanecer no recinto por estar se sentindo muito mal. Ao virar-se para nós e expressar seu desconforto, formulei uma pergunta: -“A senhora gostaria de se sentir melhor?” Surpresa!!! Por um lapso de tempo, pude perceber em seu rosto uma expressão de surpresa e confusão. Pensei comigo: -“Talvez nunca, ninguém, tenha lhe feito esta pergunta!” Passados alguns instantes, ainda meio confusa, respondeu que sim. Pedi, então, que respondesse quatro ou cinco perguntas após tê-las escrito em uma folha de papel. Terminadas as respostas, terminado o mal estar, naquele momento.

Finalmente iniciou a palestra. Havia uma mesa onde ocupavam assentos um deputado, um representante do prefeito e algumas profissionais de saúde pública (médicas e psicólogas). Após a abertura oficial da palestra, sucederam os seguintes eventos: uma médica ou psicóloga que, por vinte minutos, falou sobre a instituição Associação de Síndrome de Pânico (ou algo assim) e suas dificuldades de sobrevivência por falta de recursos e um longo agradecimento ao deputado que presidia a mesa pela sede desta associação que havia sido providenciada por ele; vinte e cinco minutos de apresentação da instituição e história de sua formação complementados por depoimentos de três ou quatro pessoas beneficiadas pela associação em seus trabalhos de ajuda mútua sob orientação daqueles profissionais; (já eram 20:30h) e uma longa indução hipnótica de aproximadamente 75 minutos realizada por uma psiquiatra que descreveu, detalhadamente, toda evolução da sintomatologia desta síndrome.

Acredito que as intenções de todos estes profissionais eram muito boas e puras. Porém, os resultados considero catastróficos. Para ter uma idéia, antes do final da última parte da palestra, mais da metade dos presentes havia se retirado da sala. Chamei de indução hipnótica por dois motivos: os resultados nas pessoas (havia uma amiga, portadora de alguns sintomas da síndrome, que me confidenciou, ao final do evento, que havia sentido coisas que não sentia há muito tempo) e os padrões de linguagem e entonações utilizados pela médica, provavelmente, inconscientemente.

Nesta ocasião, lembrei-me de um fato muito curioso que eu vivera. Nas festas de natal do ano anterior, eu havia formulado votos de natal feliz e ano novo próspero para muitos clientes da minha academia. Alguns alunos são médicos e, para um destes, dissera que torcia e esperava que seu consultório estivesse lotado de pacientes no ano seguinte. De fato, desejei a sua prosperidade. Porém, ao desejar-lhe aqueles votos, tomei consciência de algo muito sério em nossa cultura: vivemos orientados e focalizados em problemas, não em soluções!! Imagine: o que estaria pensando um médico ou psicólogo, em seu consultório, se tivesse muitos horários disponíveis em sua agenda?

Aquela médica psiquiatra, reproduzindo toda sua experiência profissional, poderia ter usado aqueles setenta e cinco minutos para falar sobre soluções. Poderia ter tentado, pelo menos, fazer com que aquelas pessoas se sentissem melhor. Mas ela, provavelmente aprendera apenas a perceber problemas. Sua intenção, quero acreditar, era boa. Porém, sua intervenção, descobri, foi desastrosa!!

Voltemos agora às soluções. Mais precisamente às questões de aprendizagem. Quer queiramos ou não, conscientemente, aprender mais e mais rápido, teremos que lidar com alguns limites que, ao longo de nossa vida e educação, colocaram ou colocamos dentro de nós mesmos. Apresento isto desta forma, pois acredito que, inconscientemente ou não, no mais íntimo ser de cada um de nós, aprendizagem é um valor essencial em nossa hierarquia. Haja visto algumas evidências: por mais cansados e exaustos que estejamos, se gozarmos de uma saúde razoável, podemos dormir talvez oito, talvez quinze, ou mesmo vinte horas – mais cedo ou mais tarde, tomamos uma inspiração profunda, abrimos os olhos e não conseguimos mais ficar deitados na cama. Mais cedo ou mais tarde haverá algo nos impelindo e impulsionando para a vida e seu movimento próprio!

Assim, supondo que, realmente , nosso “coração” possua como um valor elevado a coleta de experiências e aprendizagens, agora passaremos à frente para discutir soluções, após termos definido um cenário inicial e conhecido de limites culturais. Neste ensaio, propriamente, serão propostas soluções em um ambiente específico: como falar línguas estrangeiras mais rapidamente e com menos esforço. Este é um objetivo que pode ser considerado bem formulado se possuir um prazo. Em contrapartida, definir como meta: aprender língua estrangeira ou aprender a falar língua estrangeira é tão indefinido quanto querer emagrecer e não, querer um determinado peso. Se definirmos como objetivo um processo (aprender, emagrecer, etc), obteremos como resultado a conquista do processo e não necessariamente do fato!! Caso daqueles que aprendem línguas a vida toda mas não falam ou emagrecem todo o tempo mas nunca estão magros.

Então, aqui estaremos considerando um programa de treinamento de estratégias de aprendizagem de línguas estrangeiras baseado em alguns dos novos paradigmas da educação e do desenvolvimento de percepção. Algo que chamo de educação acelerada e engloba o estudo e prática das seguintes ciências: Programação Neurolinguística, Sugestologia (Sugestopedia, ou mesmo, Aprendizagem Acelerada), Pensamento Lateral, Estados Alterados de Consciência em Aprendizagem, Hipnose Aplicada à Educação, Design Human Engineering, New Code, Inteligências Múltiplas, Fotoleitura, Aprendizagem com os Dois Lados do Cérebro e ciências afins.

Depois de algumas décadas, finalmente, nestes últimos anos têm surgido algumas novas possibilidades e alternativas para aquelas pessoas que acham que não possuem talento ou condições de se expressar em línguas estrangeiras.

Falando sobre possibilidades, podemos experimentar algo interessante: são apenas duas brincadeiras. Escolha um objeto qualquer ou imagine um. Se não conseguir imaginar, apenas para efeito de experimentação, você pode se lembrar. Defina-o ou descreva-o: o que é aquilo que você escolheu? Simples, não é? Acredito que você tenha obtido quase instantaneamente uma resposta assertiva e segura. Preste atenção agora, preste muita atenção, agora, no que acontecerá dentro de você ao iniciar a resposta para a pergunta seguinte (fique muito atento às sensações e outras impressões): o que pode ser aquele objeto? O que poderia ser aquele objeto? Perceba que já não existe apenas uma resposta. Perceba também a mudança de enfoque e percepção. Perceba qual foi o “botão”, que você ligou ou desligou dentro de você, para que seu sistema lhe oferecesse uma outra dimensão de percepção.

Um dia, durante uma palestra, pedi aos presentes que se imaginassem como sendo um açucareiro (verdade, um açucareiro) – apenas um objeto que tinha à minha disposição naquele momento. Quando percebi, havia uma moça, jornalista, com os olhos arregalados. Perguntei. Ela respondeu que, assumindo esta identidade fictícia neste exercício, apenas desempenhando um papel teatral, sua linguagem tornara-se inusitadamente clara e objetiva! Que “botão” ela ligou dentro dela para ter acesso a essa dimensão de sua percepção? Percepção esta que não estava disponível para sua consciência quando vivia sua identidade normal. A prática de habilidades teatrais pode ser muito interessante para as pessoas reconhecerem potencialidades adormecidas em seu interior.

Os principais objetivos deste seminário vivencial: Aprendizagem Acelerada de Línguas, são instrumentalizar pessoas que queiram falar línguas estrangeiras, estudam ou estudaram línguas durante longos períodos ou lêem, escrevem e, muitas vezes, entendem, mas não desenvolveram ainda a habilidade de falar e se comunicar fluentemente.

Evidentemente, um programa que possua como objetivo a abertura da percepção para a aprendizagem ilimitada possui uma série de benefícios secundários, cujas possibilidades serão apresentadas adiante, no final deste texto.

Neste momento considero útil apresentar algumas experiências que serviram de referência para a arquitetura desta metodologia. De um modo geral, são fatos que vivenciei completamente esparsos e desconexos no tempo e que, ao tomar consciência, eram somente curiosas percepções. Num belo dia, ao sintetizar os objetivos para este curso, percebi que aquelas memórias eram os tijolos básicos para a concepção deste projeto. Chamo a elas de experiências de referência.

Ouvimos muitas pessoas afirmando que é difícil aprender a primeira língua estrangeira, mas que a partir da segunda, torna-se tudo bem mais fácil. Seja crença popular ou não, esta observação denota que ao aprender uma língua, as pessoas, em geral, aprendem algo mais: aprendem como se faz para aprender línguas… Aprendem a aprender! Além disso, existe um outro fato muito curioso: escolha algumas metas suas e separe-as em dois grupos – aquelas que você realizou e aquelas que não se tornaram realidade. Qual é a diferença entre elas? Observe, agora, alguns eventos que ocorreram em sua vida e perceba que algumas coisas boas e importantes, você nem sequer planejou: aconteceram quase que naturalmente. Como se você fosse naturalmente conduzido a concretizá-las, espontaneamente. Outra vez, qual é a diferença entre os planos que você conquistou e aqueles que não saíram do papel?

Recentemente publiquei um livro. Muitos amigos e conhecidos me elogiaram pelo empreendimento. Eu respondia agradecendo e explicando que não houvera esforço: simplesmente aconteceu. Há sete anos iniciei um livro sobre a prática esportiva (especificamente, Tênis) – que está metade pronto – e em 95, um livro de ficção sobre PNL: ambos permaneceram na gaveta. Este que eu publiquei, porém, foi uma coletânea de artigos (tal como este ensaio) que, naturalmente, empreendi para atender solicitações de algumas publicações (revistas e jornais). Um belo dia “caiu a ficha”! -“Mas o livro que eu queria já está pronto!!! Nossa!!!”

Eu sabia que qualquer plano ou objetivo que não seja aceito pelo nosso “coração” está condenado ao fracasso. Então, cada gesto e cada ação, para serem efetivos e eficazes, devem ter um significado maior para o nosso inconsciente. Afinal de contas, por que algumas pessoas são capazes de aprender línguas estrangeiras em apenas três ou quatro meses e outros estudam trinta ou quarenta anos e nunca falam? Este é outro fato curioso: há pessoas que aprendem muito rapidamente. Mais: há pessoas que aprendem muito naturalmente, sem mesmo nunca terem estudado. Como elas fazem isso? Obviamente, considero como aprendizagem, aqui, um certo nível de proficiência compatível com a comunicação interpessoal.

Há ainda mais curiosidades que acabaram por plantar questões existenciais em mim. Digo assim por acreditar que uma pergunta sem resposta é, talvez, infinitamente mais valiosa para a criatividade inconsciente. Principalmente, se disser respeito aos muitos interesses mais profundos de cada indivíduo. Faça uma experiência: concentre-se em uma pergunta e dirija-se a uma pessoa para conversar, despretensiosamente. Escolha perguntas simples no início e não formule verbalmente esta questão. Também não conduza a conversa intencionalmente para aquele assunto. Não é necessário, basta manter a pergunta em mente. Apenas observe se, informalmente, você obtém respostas ou orientações para respostas à sua pergunta. Pratique, é mágico!! Tive uma amiga que, posso dizer, colocava palavras na minha boca!

Outras referências. Observe crianças (geralmente em pontos turísticos) de até quatro ou cinco anos, que não falam a mesma língua, brincando juntas. Cada uma fala em seu próprio idioma e todas se entendem como se falassem a mesma língua! É fascinante! Que outra linguagem é essa que os adultos desaprenderam?

Albert Einstein dizia que a única coisa que não queria perder em sua vida era a capacidade de se surpreender. Isso mesmo, maravilhar-se! Também acreditava que imaginação vale bastante mais que conhecimento. Paul Valery afirmou: “Pensar profundamente é pensar o mais distante possível do automatismo verbal.” Quantos e quantos de nós pensamos ou sonhamos algo que não conseguimos expressar em palavras. Retornando, Einstein dizia que o seu grande trabalho era verbalizar (codificar em linguagem verbal) aquilo que era imaginado e concebido em suas percepções e seus pensamentos – seria isso que ele queria dizer quando afirmava que seu trabalho era 5% inspiração e 95% transpiração??? Pergunto então, o que é, na verdade, o conteúdo real da comunicação: as palavras, frases e orações ou a compreensão e o entendimento???

Duas últimas. Um grande amigo, certa vez, comentou que percebia dois momentos bastante distintos na leitura de um livro. Num primeiro momento, iniciava a leitura buscando referências e entendimento. Em alguns livros, porém, através da leitura das primeiras páginas, construía um cenário onde se desenrolaria o conteúdo do texto, então, sua leitura tornava-se extremamente rápida e fluida. Seus olhos percorriam as linhas impressas, porém sua percepção mantinha-se fixa no cenário imaginário como se assistisse a um filme. A velocidade de leitura aumentava muito, e mais, tendo visto este cenário vivo em sua imaginação, era capaz de memorizar cada detalhe do enredo do livro com relação ao todo. Cada vez que vivia esta experiência de leitura, então conseguia se lembrar de tudo do livro! Surpreendente, não? De fato, o que é comunicado através da linguagem?

A última. Um dia, há uns quinze ou vinte anos, acordei pela manhã com uma cena vívida de algo que sonhava imediatamente antes de despertar. Em minha memória permaneceram os sons de algo que eu falava para um personagem do sonho. Minha mensagem era muito coerente e imperativa. Porém, os sons que permaneceram em minha memória não se pareciam com nenhuma língua que eu conhecesse. Pensei. O que será que aconteceria se eu quisesse expressar ou falar algo cuja linguagem não pudesse ser articulada em nossa língua? Seria eu capaz de elaborar um pensamento que a linguagem não alcançasse? E a partir daí, como eu poderia comunicar esta percepção ou pensamento?

Na minha consciência concorreram estas experiências como referências da necessidade de elaborar este programa. Também acredito que isso não é tudo. Possivelmente existam outras dúvidas e perguntas sem resposta suscitadas por outras experiências de referência que ainda não foram equacionadas conscientemente.

Em seguida, após apresentar mais dois cenários interessantes, vou apresentar as pressuposições básicas, paradigmas ou mentiras úteis de fundamentação (dogmas, se preferir).

Nós possuímos crenças muito interessantes a respeito das coisas e objetos que nos cercam. Porém, muitas delas não têm consistência à luz de algumas evidências científicas. Quero discutir uma que me assombra… Quando tocamos um objeto sólido ou um líquido, temos uma certa impressão de textura ou consistência (sensação de dureza ou viscosidade). Se estudarmos um tratado de física a respeito da estrutura da matéria, provavelmente descartemos a informação de que 99,9% da matéria densa é espaço vazio!!! Isso mesmo, espaço vazio! É natural a seleção desta informação como fazendo parte do conhecimento abstrato dos cientistas. Mas os instrumentos científicos atuais comprovam esta evidência. No entanto, naturalmente, continuamos a acreditar em nossas impressões sensoriais. Agora, lembre-se de algum sonho que você tenha tido, mais alucinante ou mais real, não importa. Não concebemos, em nossa cultura, algo mais irreal ou fantasioso que um sonho. Pois bem, resgate uma cena qualquer do sonho e observe estas memórias.

Por mais mutantes ou fugazes que sejam as imagens deste sonho, algo eu tenho certeza: a Lei da Gravidade vale no seu sonho; caso você possua a memória da sensação ou não, o mundo do seu sonho também é de cabeça para cima (não é tudo de ponta cabeça como poderia ser, considerando-se o ambiente impermanente, irreal e onírico); se você derrubar um objeto qualquer, provavelmente terá certeza que ele se quebrará ao bater no chão; maioria das vezes, as pessoas se deslocam através dos mesmos procedimentos de caminhar ou dirigir de nossa chamada realidade material e objetiva!!! Tudo neste ambiente pode ser tão real e duro (os sólidos são duros e os líquidos são líquidos) quanto somos capazes de acreditar e, no entanto, são sonhos! E então? Há uma citação de um sábio chinês muito interessante: “Eu hoje sonhei que era uma borboleta. Agora, não sei se sou um homem que sonhou ser borboleta ou, se sou uma borboleta sonhando ser homem!” Não tenho, realmente, a certeza se as coisas são duras e objetivas porque assim são ou, se são desta forma apenas porque no nível inconsciente profundo de nossa raça, acreditamos que assim seja!!! Assim, seja verdade ou não, porque acreditar em limites que podem não ser verdadeiros?

Estas evidências servem apenas para pôr dúvidas nas crenças mais antigas e estruturadas em níveis mais profundos e inconscientes com o objetivo de abrir algumas frestas (ou janelas) de percepção. Faça uma outra brincadeira. Localize em um atlas um mapa mundi ou planisfério. Observe-o. Feche os olhos e imagine-o ou lembre-se da imagem do mapa. Na sequência, em sua imaginação ou memória, vire o mapa de ponta cabeça. O que você sente? Desconforto, confusão, alguma sensação física estranha?? Lembre-se: o mapa mundi, do jeito que conhecemos – o sul localizado em baixo e o norte localizado em cima, é apenas uma convenção!!! Sim, apenas uma convenção também o fato do sul ser localizado no Sul e o norte ser localizado no Norte!!! Perceba que, apesar de ser somente uma convenção, esta crença está instalada em nível visceral. Talvez você tenha sentido desconforto físico, não precisa se manter assim: desvire o mapa novamente, recoloque-o como nós aprendemos. Isto foi um experimento apenas para perceber como temos reações inconscientes às mudanças de paradigmas e entender melhor como funciona nossa linguagem interior. Portanto, falemos sobre aprendizagens. Consideremos a seguinte ética: certo, são todas as ações e crenças que geram possibilidades de melhorar as situações; errado, são todos os padrões que nos limitam a percepção ou expressão que não sejam invasivas ao nosso próximo ou agressivas ao nosso habitat. Busquemos possibilidades então.

Esta ilustração anterior era importante porque parte das premissas que apresentarei são falsas (para nosso entendimento e nossa cultura), porém, muito úteis. Na verdade, acreditando-se nelas, nossos resultados ficam extremamente mais simples e fáceis.

Lá vai. Noventa e três por cento (93%) da comunicação interpessoal humana é não verbal (não é efetivada pelas palavras!). Tanto quanto saber que 99,9% da matéria física é espaço vazio, esta é uma informação que poucas vezes encontra ressonância em nossa percepção. Porém, a maior parte das pessoas que se consideram inaptas para comunicação em língua estrangeira trata os 7% da comunicação verbal como se fossem os 93% da comunicação integral (estes índices são mágicos, se acreditarmos neles). Portanto, muito simples, somente 7% da comunicação deve ser reaprendido, pelo hemisfério cerebral esquerdo, na meta de se conhecer outras palavras para se expressar em língua estrangeira, simplificadamente. Observação: os 93% de mensagens não verbais são divididos em padrões de linguagem não verbais vocais – 36% (ritmos, entonações e padrões sonoros) e padrões de linguagem não verbais corporais – 57% (gestos, movimentos, etc). Necessariamente, ao aprendermos a expressão em língua estrangeira, aprenderemos 43% de novidades, porém, aqueles 36% não demandam esforço pois não precisam ser, necessariamente, conscientes.

O caso específico da língua inglesa, que nos tem sido imposta pela globalização, mais do que espontânea ou prazerosamente desejada, possui a mesma estrutura linguística que nossa língua (sujeito + verbo + predicado, simplificadamente). Mais: 65% da língua inglesa tem raiz latina. Surpreendente, não? LATINA!!

Observe um adulto, daqueles que se consideram, ainda, limitados quanto à habilidade de se comunicar em língua estrangeira. Provavelmente, na medida em que esse dirija a uma criança de três ou quatro anos, cuja língua mãe seja aquela que ele gostaria de ou precisaria saber, ele talvez diga que esta criança teve uma oportunidade diferente pois aprendeu desde pequena e, de fato, fala aquela língua. Se avaliarmos, entretanto, seus recursos detalhadamente, é possível que este adulto possua um vocabulário, naquela língua, até maior que o vocabulário da criança. Como ele faz esta distinção? Quais são os critérios que ele escolhe para diferenciar o que é falar, de fato, do que ele pensa que é falar?

Finalmente, observe como uma criança aprende sua língua. Observe que o falar errado não é intencional, mas sim, falta de acuidade e de discernimento dos sons. Possui ainda pouca habilidade de ouvir seus próprios sons e faz, ainda, poucas distinções. Porém, observe como as entonações e ritmos do seu discurso correspondem aos sons de sua língua com precisão. Ela pode enrolar a língua, falar errado, mas os padrões sonoros não verbais são bastante familiares à língua: a chamada “embromação verbal”.

Há alguns anos fiz uma avaliação da minha vida e cheguei à conclusão que seria muito saudável se eu realizasse algumas grandes e significativas mudanças. De certa forma, acredito que uma das principais dimensões da existência seja aprender a escolher, selecionar, tomar decisões de um modo geral.

Pense comigo, ouvimos muitas pessoas comentarem que o tempo passa cada vez mais rápido. Que o ano voa, etc. Uma manhã, após ter trabalhado das nove ao meio-dia e meia, fiz uma retrospectiva dos resultados e imaginei que, se não existisse telefone, ou meio de comunicação substituto, possivelmente, aquela manhã de trabalho teria durado algumas semanas. Conversas, escolhas e decisões, soluções e informações que foram transmitidas em vários telefonemas dependeriam de muitos encontros pessoais para serem efetivados. Talvez em apenas uma manhã eu tenha vivido experiências, tomado decisões, solucionado problemas e dado instruções correspondentes a mais de um mês inteiro de trabalho de um ser humano que viveu antes das telecomunicações!!!

Vamos adiante. Façamos uma fantasia: consideremos um homem da Idade Média. Talvez, com estimativa média de vida de apenas 30 ou 40 anos, ele fosse um camponês. De todas as experiências que ele pudesse viver naquela rotina de trabalhar doze ou catorze horas por dia, acordar com o nascer do Sol ou antes e, ano após ano viver apenas plantando e colhendo. Possivelmente, toda uma representação deste tipo de vida possa ser vislumbrada em uma película de cinema que dure talvez uma ou duas horas. Sentimentos, impressões, idéias estavam restringidas às suas condições sociais e materiais seguramente estáveis. Certamente, isso é mais uma simplificação grosseira. Porém, se mensurarmos o fluir do tempo, como ele se escoa – lembrando uma ampulheta, a partir da consciência que possuímos dos eventos, então torna-se mais fácil entender porque temos a ilusão, ou impressão, de que o tempo passa cada vez mais velozmente.

Tão importante quanto esta definição do fluir do tempo, melhor dizendo, da consciência do fluir do tempo, é a percepção que, em nossa civilização, somos passivos de intoxicação de informações e percepções. Uma significativa estratégia para aprendermos a lidar com isso, sem gerar grande tensão, é ativar as formas de aprender inconscientemente e desenvolvermos a capacidade de resgatar este conhecimento do nosso inconsciente. Caso contrário o “stress” cognitivo passa a assombrar aqueles que querem mais e mais informações e não se interessam em filtrar o desnecessário, o supérfluo e o lixo.

Escolha uma habilidade que você realiza com excelência: sua atuação, seja ela cozinhar ou jogar tênis, certamente, é inconsciente no que diz respeito a estrutura do comportamento, fluência das percepções e escolha dos procedimentos na dimensão de tempo e espaço. Então, se a excelência e a naturalidade residem no conhecimento profundo (inconsciente ou “visceral”, se preferir), porque não usar isso a nosso favor? Acredita-se que mais de noventa por cento do funcionamento humano seja inconsciente. Eu talvez arriscasse um palpite: 99,9%, mas não tenho coragem suficiente para afirmar isso. De fato, você reconhece que existe um vento soprando ao observar as perturbações na superfície de um lago tranquilo, percebendo os movimentos das folhas das árvores ou mesmo, sentindo os estímulos táteis na pele. Entretanto, não somos capazes de ver o vento. Porém, muitas evidências se apresentam quando o vento sopra!

Pois bem, as evidências que eu possuía a respeito do sucesso de minha vida não eram animadoras. Poucas distinções eu fazia que me tornassem consciente desta condição, ou sequer era capaz de identificar o quê estava errado. Neste caso as escolhas, muitas vezes, são realizadas no escuro, “no instinto”: – queria mudar… para o quê? Não sabia. Sabia que estava insatisfeito com meus resultados até então. Sabia também que, se permanecesse fazendo o que sempre fizera, continuaria a obter os resultados já conhecidos! Finalmente, após cozinhar em fogo brando estes sentimentos e percepções, tomei três decisões significativas: fechei uma loja que havia sido, para mim, um sonho de quatro anos (um empreendimento mal sucedido do ponto de vista empresarial e bem sucedido do ponto de vista pessoal: descobri que não me dava nem prazer nem dinheiro) – esta decisão foi a mais objetiva; decidi que não leria mais jornal nem veria televisão – isto porque me sentia mal com a nossa cultura jornalística e de entretenimento (são, maioria das vezes, problemas e violência); e, já num nível simbólico, decidi tornar-me canhoto.

Tornar-se canhoto, simbolicamente, era uma opção pelo novo e pelo desconhecido. Algo que representava mudança. Porém, simplesmente dizer: -“Ah! Vou virar canhoto.” Não muda nada! Então estabeleci quatro metas que me sinalizariam o sucesso deste empreendimento, desta transformação no nível simbólico. Finalmente, se eu estaria me encaminhando para os meus objetivos maiores. As quatro metas eram desenvolver as seguintes habilidades com a mão esquerda: comer (com garfo e com os “pauzinhos” do restaurante japonês), escrever, jogar tênis e escovar os dentes. Meu sócio que, junto comigo, assumiu o desafio de jogar com a mão esquerda, passados alguns meses, comentou algumas mudanças que observara em sua percepção e criatividade. Este talvez fosse um dos únicos resultados que eu previra antes, por saber que a estimulação motora do lado esquerdo do corpo corresponde a uma estimulação nervosa do hemisfério cerebral direito – berço da criatividade, simplificadamente.

Esta experiência, pouco consciente no início, tornou-se uma forte referência de possibilidades. Além disso, os resultados indiretos e ganhos secundários excederam de longe os objetivos projetados inicialmente: eu não só me tornei canhoto, de fato, eu também me tornei ambidestro! Isso também acalmou significativamente minha ansiedade normal ao lidar com situações contraditórias (já dizia a percepção dialética que segue-se a tese, a antítese, depois do que vem a síntese, já num outro nível lógico de percepção). Também se desenvolveu a percepção consciente em ambientes descontínuos e caóticos: onde as informações não estão disponíveis linear e sequencialmente – mais conhecidos como quebra-cabeças. Aliás, acredito que viver é, além de escolher e tomar decisões, montar um grande quebra-cabeça. Esta experiência também me mostrou que quanto mais aprendo, mais fácil se torna aprender – pois, em cada aprendizagem, estou também aprendendo a aprender!

Ao considerar as metas, há uma distinção interessante no caso do aprendizado de línguas: metas explícitas e metas implícitas. Podemos definir metas explícitas como sendo os objetivos normais estabelecidos e metas implícitas como sendo o desenvolvimento de alguns recursos e ferramentas indispensáveis para se atingir as explícitas: as fundações para que a edificação seja construída em bases sólidas. Considerando então as metas explícitas como sendo aquelas que, usualmente, as pessoas procuram como resultados objetivos de seus empreendimentos, no programa de treinamento de estratégias de aprendizagem de línguas estrangeiras, elas são as seguintes:

  • melhorar a comunicação e expressão verbal em língua mãe;
  • desenvolver percepção, sensibilidade e flexibilidade na comunicação;
  • aprender noções de Programação Neurolinguística e Aprendizagem Acelerada;
  • conscientizar estratégias de aprendizagem de alto desempenho (saber aprender);
  • desenvolver algumas habilidades de falar em público e de gerenciar o “stress” associado a esta prática;
  • ativar conhecimentos de outras línguas adquiridos anteriormente;
  • aprender língua estrangeira (usualmente, para efeito de prática, utilizamos o Inglês como cenário deste programa).

Essencialmente, estas metas consideradas explícitas podem depender de alguma ação ou tomada de decisão posterior, por exemplo, para falar língua estrangeira haverá necessidade de um investimento de tempo em prática consciente de conversação e de audição (treinamento do discernimento dos sons na nova língua).

Não obstante, graças à natureza desta metodologia, ocorrerão alguns possíveis efeitos secundários (“colaterais”) bastante interessantes, tais como: resultados terapêuticos significativos e de aumento de percepção (possivelmente, ou explicado cientificamente, por uma nova configuração da auto-imagem do comunicador); estimulação da “creatividade” (denominação dada ao fenômeno que ocorre quando a geração e elaboração de idéias criativas vêm permeadas e contaminadas por uma forte motivação natural e espontânea para a realização efetiva); auto-conhecimento (na forma de melhores instrumentos para realizar a comunicação intra-pessoal – “quando mente e coração estão melhor alinhados”); ruptura de alguns hábitos ou crenças limitantes; integração de atividades de hemisférios cerebrais direito e esquerdo; reconhecimento da estrutura da auto-motivação; ferramentas eficazes para o gerenciamento de “stress”; melhores estratégias de estudo e concentração.

Semelhante a outros sistemas de treinamento e desenvolvimento baseados em técnicas de ensino recursivas, este programa pretende atingir os objetivos formulados anteriormente de forma direta (através de práticas, vivências e exercícios) e indireta (através dos estados de consciência alterados obtidos pela linguagem e formato de apresentação). Neste contexto, as metas implícitas ou, instrumentos não necessariamente conscientes, são o desenvolvimento de:

  • técnicas e recursos de comportamento em comunicação;
  • habilidades de planejamento e auto-motivação;
  • percepção, sensibilidade e uma sistema de crenças possibilitadoras;
  • multiprocessamento cerebral: a habilidade de coordenar mais de uma tarefa simultaneamente;
  • fé, isto mesmo, fé: autoconfiança e identificação de processos inconscientes como recursos e instrumentos naturais e disponíveis para lidar com um mundo onde a quantidade de informações disponíveis excede assustadoramente o sonho de se adquirir conhecimento pelas vias normais conhecidas.

Como apresentado neste texto, parte do programa é estruturado através de analogias e linguagem metafórica. Outras atividades, tais como vivências, exercícios e algumas apresentações didáticas complementam o sistema.

Como última consideração, fica a esperança de que as dificuldades encontradas pelo caminho e as aprendizagens obtidas no empreendimento de falar e se comunicar em línguas estrangeiras possuam um significado maior para cada indivíduo. Isso, muitas vezes, permite que, intensificadas as buscas por resultados melhores, os ganhos sejam bastante maiores e melhores que os objetivos definidos conscientemente. Quantas e quantas vezes não optamos por caminhos cuja avaliação consciente não nos comove, porém, algo nos diz que deve ser esse o caminho a ser trilhado – confie no seu “coração” (inconsciente)! Como comentei anteriormente, acredito que as perguntas sem respostas acabam por produzir muitas outras respostas para outras perguntas que, muitas vezes, nem tinham sido formuladas ainda.

Conclusão

Embora incompleto, dado que é um esboço inicial, esse artigo tem a finalidade de apresentar algumas incoerências no sistema convencional de ensino de idiomas. As histórias aqui contidas também servem para demonstrar que tais contradições não são privilégios de métodos obsoletos, mas de toda a educação e cultura que permeiam nossa civilização atual, muito mais interessada em problemas do que em soluções. Portanto, se sua curiosidade foi despertada pelo discurso contido nesse artigo, você certamente aproveitará a leitura do livro “Domesticando o Dragão – Aprendizagem Acelerada de Línguas Estrangeiras” também disponível nesse site para leitura.

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