Reflexões sobre a saúde: Uma Abordagem Educacional

Autor: Walther Hermann Kerth

Ser profissional da área de saúde não garante imunidade contra doenças nem uma boa saúde necessariamente. Se relevarmos o nível de tensão e insalubridade dessas profissões, então talvez cheguemos à conclusão que são algumas das profissões menos saudáveis.

As razões da existência desse artigo se relacionam com minha aproximação aparentemente casual com alguns dos profissionais da área de estética e saúde num recente evento: I Congresso Brasileiro de Micropigmentação. Agradavelmente surpreso com o público presente e a qualidade do evento, constatei a importância de um movimento de sensibilização de todos esses profissionais para a necessidade de um certo “treinamento interior” que lhes proporcionasse melhores condições e ferramentas para lidar com tantas “intempéries” próprias dessas profissões relacionadas com a saúde emocional, auto-estima, auto-respeito, higiene e a própria saúde física, no caso de aplicações reparadoras, recuperação ou terapia.

Acima de tudo, creio que mesmo os melhores desses profissionais também sejam seres humanos e, como tais, pessoas suscetíveis de dúvidas, sentimentos e desejos. Neste momento lembro-me de uma entrevista concedida pelo Dalai Lama (líder supremo do Budismo Tibetano) quando lhe perguntaram sobre sua existência como pessoa. Ele serenamente respondeu que quando estava bravo, ficava bravo… Quando estava feliz, ele ficava feliz… E, quando estava triste, ficava triste!!! Pensando nisso, lembrando das dificuldades, dúvidas e incertezas que acompanham a minha existência, parei para refletir sobre as qualidades “onipotência e onisciência” que muitas pessoas depositam em alguns profissionais da área de saúde que, apesar de tudo, também são humanos.

Como educador, hipnólogo e conferencista, neste momento, me vem à mente as várias mudanças de atitudes que são observadas nesses profissionais ao longo de suas carreiras. Isto é, eventualmente, a escolha de uma profissão por um estudante sofrerá algumas mudanças e adaptações durante sua própria vida. Muitas motivações conspiram para estas transformações próprias da natureza humana. Homeopatas que já foram expoentes da medicina ortodoxa. Indivíduos que, um dia necessitados dos serviços profissionais de algum colega constataram a importância de uma humanização das relações nessas profissões. E tantos outros exemplos que indicam a fragilidade de algumas posturas profissionais rígidas que se amolecem ou se dissolvem no momento de um possível encontro com uma doença séria.

Lembrando de tantas incertezas ainda poderíamos projetar nossa existência para o futuro perguntando-nos: – “O que nos faria mudar de área profissional?”; – “O que teria que acontecer em nossa vida que nos faria ser completamente diferentes?”. Tão diferentes que nós mesmos nos estranhássemos!!! Naturalmente cada um de nós já conheceu alguém que atravessou essas transformações e que, um dia, se tornou um estranho. Essas são algumas contingências do fato de estarmos vivos. Agora pense como isso se desenrola na vida de um profissional de saúde. Sim aqueles incumbidos de gerenciar essas dificuldades dos outros!

Dados trágicos como a Faculdade de Medicina da USP possuir o maior índice de suicídio de alunos de toda a universidade; alunos dos cursos de psicologia e psiquiatria apresentarem grande parte dos sintomas ou patologias que estudam; altos índices de infecção hospitalar em algumas instituições; e tantas outras evidências… Talvez estejam de alguma forma relacionados com um episódio simples e familiar, porém revelador, que presenciei informalmente quando perguntei a uma prima, recém-formada em psicologia, o que havia sentido quando lera um livro que lhe dera e ouvi a seguinte resposta: – “O meu negócio é pensar e não sentir”!!!

Como hipnólogo, lembro-me com carinho uma das mais enfatizadas recomendações de um de meus professores, o Dr. Erimá Moreira, um dos mais importantes hipnólogos brasileiros, quando ministrava seminários para profissionais de saúde (médicos, dentistas, psicólogos e enfermeiros): quando prescreverem uma receita médica, expliquem para o cliente ou paciente como tal procedimento ou medicamento vai atuar no processo de cura.

Se nos lembrarmos do surpreendente fenômeno do efeito placebo e as experiências de duplo-cego, nas quais as substâncias ativas de cada medicamento nunca superam em mais de 30% os efeitos de um placebo, compreenderemos o alcance daquelas recomendações e a importância do estado interior do profissional ao conquistar a confiança do cliente. Quem sabe aí estejam muitas das soluções para a cura.

Casualmente, o trabalho que apresentei no congresso mencionado se distancia muito das mais populares apresentações dos usos e aplicações da Hipnose, tais como demonstrações de palco, regressões, sugestões ou relaxamentos. Diferente de tudo isso, a hipnose, quando aplicada à educação é uma metodologia de hiperestimulação das funções tipicamente associadas ao funcionamento do hemisfério cerebral direito, tais como, aumento de percepção, criatividade, poder de visualização, encadeamento não-linear da linguagem, capacidade de síntese e compreensão de ambientes cognitivos descontínuos (caóticos), percepção de múltipla estimulação sensorial simultânea (“assobiar e chupar cana”).

Coisas tão simples como olhar profundamente nos olhos de uma outra pessoa, podem ser tão distantes quanto nos utilizarmos do nosso olfato para escolhermos os alimentos próprios para consumo em determinado dia. Um de meus grandes mestres, um tanto irreverente, costuma dizer que a natureza é muito sábia e que, se colocou o nariz em cima da boca, é para cheirarmos os alimentos que entram em nosso corpo. Caso contrário estaria localizado na base da coluna vertebral!!! Mesmo que, socialmente, ainda consideremos falta de educação cheirar o que comemos devemos nos lembrar que o ser humano ocidental talvez seja o único animal que não cheira o que come! Detalhes simples como este podem revelar as ocultas razões de um crescimento inimaginado das práticas de saúde alternativas, sejam elas quais forem, desde a medicina alternativa até o crescimento de cultos e seitas religiosos. Quem sabe esse movimento tenha nascido do anseio humano de resgatar sua natureza, sensibilidade e sentimentos.

Parece haver uma conspiração silenciosa para o resgate da percepção e da sensibilidade humanas. Em minhas fantasias, às vezes reflito sobre um grande “vírus” cognitivo herdado de C. J. Jung: ele dizia que o ser humano possuía um inconsciente coletivo. As evidências do comportamento humano parecem indicar que é o Inconsciente Coletivo que possui o Homem!!!

Concluindo, após esse breve convite à reflexão, pergunte-se: – “Em que momentos eu me sinto mais como eu mesmo?” Se preferir, considere então a seguinte questão. Se você acredita existir algo Maior que nós, se algum dia encontrar esse algo, certamente nunca escutaria a pergunta (que muitos pais fazem a seus filhos): – “Fulano, por que em sua vida você não foi mais parecido com ciclano? Por que não fez mais como beltrano?” Não, Alguém que criou a diversidade nunca faria essa pergunta! Possivelmente perguntasse: – “Fulano, por que em sua vida você não foi mais parecido com você mesmo??!! Por que não seguiu mais o caminho que te foi destinado? Por que não foi mais você mesmo?

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