Como Ler

Por Rubens Queiroz de Almeida

Eu costumo recomendar que a velocidade da leitura deve estar em razão inversa com a nossa compreensão do que estamos lendo. Em outras palavras, quanto menos entendermos, mais rápido devemos ler.

Esta é uma recomendação frequentemente encarada com desconfiança. Mas como, devemos ler mais rápido se não entendermos bem o texto? Exatamente. Agora deixem-me explicar a razão desta orientação.

Quando não estamos entendendo algo que lemos, reduzimos a nossa velocidade de leitura, abrimos mais os olhos, não piscamos, contraimos os ombros, tudo no intuito de prestar mais atenção.

Ao reduzirmos a nossa velocidade de leitura estamos fornecendo ao nosso cérebro uma quantidade de informação inferior à que é capaz de processar. A tendência natural é divagarmos e começarmos a pensar em outras coisas. Este é um processo que não podemos controlar. Tente não pensar em alguma coisa, por exemplo, o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro. Conseguiu? Certamente que não.

As nossas tentativas de focar a atenção reduzindo a velocidade raramente produzem resultados. Ao lermos mais devagar perdemos a visão do todo. Impedimos o nosso cérebro de ativar os conhecimentos relacionados, que adquirimos de diversas formas ao longo de nossa vida. Este conhecimento prévio nos ajudar a esclarecer os conceitos contidos no texto que estamos lendo. Apenas quem voa em um avião consegue ver os contornos de uma cidade. Dificilmente quem vive olhando para o chão conseguirá obter uma visão mais ampla.

Abrir mais os olhos não aumenta a nossa capacidade de visão. Muito pelo contrário. Estas atitudes podem inclusive conduzir a uma deterioração dos órgãos visuais (ver referências) Nossos olhos são capazes de focar a atenção apenas em pequenas áreas. A visão mais ampla é obtida através de uma contínua movimentação dos olhos. Olhar fixamente para algo, sem piscar, priva os olhos de mecanismos naturais de proteção e funcionamento. Ao piscarmos menos privamos os olhos da lubrificação de que tanto necessitam.

Todos estes fatores conduzem a uma situação de estresse e cansaço, e mais do que tudo, nos priva do prazer que toda experiência de aprendizado deve trazer consigo. Dificilmente alguém conseguirá se envolver por períodos prolongados de tempo estudando algo que lhe traz tanto desprazer.

A compreensão de informação nova depende de diversos fatores. O conhecimento prévio do assunto melhora a nossa compreensão de textos novos através do estabelecimento de relações entre o novo e o velho.

Ler mais rápido nos impede de adotar estas posturas desgastantes e danosas à nossa saúde e nos permite ver o assunto de forma mais ampla. Leituras subseqüentes vão nos fornecer mais e mais indícios que nos permitirão alcançar gradativamente uma melhor compreensão.

Ao lermos textos em outro idioma (e mesmo em nosso idioma nativo), dificilmente obtemos uma compreensão integral. Esta compreensão integral raras vezes também é necessária. Ao lermos algo sempre temos um objetivo em mente. A medida do sucesso não é a compreensão integral, palavra a palavra, mas sim conseguirmos obter do texto as informações que necessitamos. Se entendermos apenas 10% de um texto, mas mesmo assim conseguirmos obter a informação que buscamos, o sucesso é total.

Nunca devemos também nos esquecer que o aprendizado de um idioma é um processo. Se a nossa forma de estudo é tediosa, dolorosa e sem atrativos, dificilmente conseguiremos prosseguir.

Neste processo de aprendizado devemos fazer algo TODOS os dias, mesmo que por apenas alguns minutos. O tempo passa, e cada vez mais rápido. Mesmo que estudemos apenas cinco minutos por dia, ao final de um ano os resultados são bastante palpáveis. Se não fizermos nada não teremos chegado a lugar nenhum e o ano terá se passado da mesma forma.

Lembre-se sempre destes pontos. E se não estiver entendendo muito bem, leia mais rápido.

Referências

A seguir listo algumas referências sobre o Método do Dr. Bates, médico americano que desenvolveu um método de melhoria da visão extremamente interessante, porém praticamente esquecido nos dias de hoje. Os ensinamentos do Dr. Bates me influenciaram profundamente e são base para muitos dos conhecimentos que tento transmitir em minhas aulas.

Eu particularmente tenho um relato bem interessante sobre o assunto. Muitos anos atrás, ao ministrar um curso sobre a Internet, estava explicando o funcionamento dos Usenet News Groups. Como os alunos eram da área médica, eu entrei em um grupo de discussão sobre medicina. Neste grupo, havia um pedido de uma pessoa, dos Estados Unidos, que buscava informações sobre o método do Dr. Bates e indicações de livros. Esta pessoa, segundo seu relato, estava quase cega e procurando ajuda fora dos círculos médicos tradicionais.

Eu já havia lido os livros do Dr. Bates e de Aldous Huxley e forneci as indicações solicitadas. Esqueci o assunto. Depois de seis meses, para minha surpresa, eu recebi uma mensagem de agradecimento desta mesma pessoa relatando que havia conseguido uma melhoria espantosa em sua visão, apenas seguindo o método.

  • Perfect Sight Without Glasses Escrito pelo Dr. William Bates, e publicado em 1943, esta obra nos fornece informações valiosas sobre a reeducação visual. Praticamente esquecido nos dias de hoje, o método do Dr. Bates chegou a ser empregado com sucesso por muitos anos nas escolas americanas. Este livro encontra-se disponível na íntegra na Internet.
  • The Art of Seeing – Este livro, escrito por Aldous Huxley, oferece um relato pessoal do método do Dr. Bates e seu sucesso. Aldous Huxley chegou a ficar praticamente cego após uma doença em sua adolescência e conseguiu uma recuperação espantosa seguindo este método. Seu livro relata diversos exercícios e explica o método do Dr. Bates de forma bastante clara e atraente. O site da Amazon, fornece uma grande quantidade de informação sobre o livro e opinião de diversos leitores.
  • Livre-se dos seus Óculos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *