Milton H. Erickson – Um Grande Mestre

© Walther Hermann Kerth

Sinopse

Um breve relato da empolgação que foi ter conhecido o trabalho do pai da Hipnose

Médica Científica Moderna e avô da Programação Neurolingüística, através do estudo pessoal com vários de seus discípulos que estão no mundo propagando e difundindo suas descobertas, seus métodos e seus conhecimentos.

Contexto

Se Sigmund Freud (Pai da Psicanálise) foi considerado uma das mentes mais privilegiadas do século passado, especialmente pela sua contribuição para a compreensão da mente e de que a realidade objetiva humana e seus comportamentos são condicionados por fatores que pertencem ao universo da subjetividade humana, certamente então Milton H. Erickson, M.D., será conhecido principalmente pelo dom de ter construído uma metodologia extremamente poderosa para auxiliar e fazer intervenções terapêuticas em pessoas necessitadas de mudança, transformação e adequação comportamental.

Artigo

Há algum tempo, li uma reportagem sobre hipnose na Revista Planeta. Senti falta de alguma citação dos trabalhos do Dr. Milton H. Erickson, M.D. (falecido em 1.980), ou de alguns de seus discípulos que vêm regularmente ao Brasil ou, ainda, algum outro profissional que atuasse com hipnose médica e científica.

Esse ramo da hipnose, cujo modelo pende mais para a conceituação dos estados alterados de consciência, atua especialmente como instrumento psicoterapêutico e de promoção de saúde.

Quero contar algumas histórias a respeito do meu estudo do Método do Dr. Erickson, quando escolhi aprofundar-me nos estudos que se iniciaram pela Programação

Neurolingüística.

Minha ênfase profissional tem sido a educação. Descobri que os grandes educadores se utilizam, consciente, inconsciente ou intuitivamente, de muitas ferramentas identificadas no modelo da prática de Milton Erickson: histórias, metáforas, comparações, paráfrases, entonações vocais diferentes em aspectos importantes, muita imaginação, criatividade e flexibilidade e, principalmente, muita sensibilidade ao observar os estudantes e suas mínimas manifestações (feedbacks, reações e comunicações).

Ao ler os livros que falam a respeito do Dr. Erickson ou estudar com seis de seus discípulos (Dr. Jeffrey Zeig, Dr. Ernest Rossi, Dr. Steven Lankton, Dr. Richard Bandler e

Dr. John Grinder, co-criadores da PNL, e Dr. Robert Dilts), pude observar e vivenciar muito do que uso atualmente como formas de comunicação e ferramentas de aprendizagem (e “ensinagem”).

Como muitos outros consultores na área, minha entrada na PNL foi de mansinho e com olhar bastante crítico. Por necessidades pessoais, iniciei buscando significados e a filosofia da prática que, em geral, não é apresentada nos cursos introdutórios. Além disso, me interessava saber como a PNL veio a existir, de onde veio e como tinha sido desenvolvida.

O Dr. John Grinder contou que, junto com o Dr. Richard Bandler, estudou e observou atentamente o trabalho de Erickson. Na forma de brincadeira, imitavam e copiavam posturas e entonações vocais do Dr. Erickson durante as aulas e sessões. Perceberam que, quando tais posturas e maneiras de falar passaram a acontecer naturalmente em seus comportamentos, estavam prontos para começar a escrever os trabalhos sobre

Erickson e sobre a ciência nascente: a Programação Neurolingüística.

Milton Erickson era brilhante em sua sensibilidade e percepções. Sua inteligência e sabedoria, realmente, destacavam seus resultados como psiquiatra e educador. Ele tinha uma fé inabalável na capacidade das pessoas de solucionar seus próprios problemas.

Seu método, dentro da hipnose, não se restringia apenas ao transe formal e inconsciente.

Tive oportunidade de assistir a vídeos onde ficaram registrados sua habilidade, seu brilhantismo e o respeito com que tratava seus clientes e pacientes, formalmente, em transe ou não.

Freud e Jung também iniciaram seus trabalhos pioneiros no campo da Hipnose.

Posteriormente, criaram abordagens particulares a respeito da psicoterapia. Viviam em uma época onde imperavam algumas crenças a respeito da causalidade (leis de causa e efeito, em que o presente é conseqüência do passado e gerador do futuro) e do pensamento cartesiano (analítico), que provavelmente concorreram para a formulação de seus modelos.

Erickson era um inovador. Propôs novas escolhas. Vivia dentro de outros paradigmas: talvez o presente fosse conseqüência do futuro. Então, o processo terapêutico poderia ser abordado como um processo de aprendizagem no qual a atuação do terapeuta seria transformada na do professor, e ao paciente seriam ensinadas novas estratégias e mostrados alguns recursos que já possuísse, mas que, muitas vezes, não soubesse que o possuía ou onde, especificamente, poderia usá-lo. Outro reenquadramento precioso é o fato de que o inconsciente ganhou um novo papel: ele não é mais algo contra o qual o terapeuta deve investir ou elaborar táticas de defesa. Muito pelo contrário, talvez seja o maior aliado do ser humano (mesmo porque a experiência humana acontece em grande parte nesse nível de existência).

Ninguém sofre por querer, e sim por não saber como fazer diferente. Dr. Erickson dizia que “em todo aprendizado existe sempre um pouco de confusão e um pouco de esclarecimento ou compreensão”. Sua percepção a respeito do que é a aprendizagem era muito útil para as suas intervenções. Se prestarmos atenção, veremos que muitas de nossas crenças e de nossas decisões significativas aconteceram após um evento de grande dúvida e confusão. Essa maneira de entender a aprendizagem estava diretamente ligada à sua fé nas aprendizagens inconscientes, nos recursos e ferramentas que a maior parte das pessoas possui, porém, muitas vezes guardadas e sem uso em ocasiões de necessidade.

Em um livro a seu respeito, de autoria do Dr. Jeffrey Zeig (“Seminários Didáticos de

Milton Erickson”, Editorial PSY/Campinas), há um comentário a respeito do que seria complementar à clareza. Essa passagem referia-se a uma experiência de um cientista conhecido. A resposta foi que a precisão era complementar à clareza: para que uma comunicação seja clara, é necessário que seja simples, sacrificando-se a precisão. Para que seja precisa, necessita detalhamento e, portanto, muitas vezes sacrifica-se a clareza.

Quando Erickson atuava, era bastante confuso e obscuro, segundo o depoimento de seus alunos e discípulos. Porém, sua precisão e eficácia eram elogiáveis. Todos falam dele com muito respeito, carinho e orgulho. Foi mestre de mestres!

Certa vez perguntei ao Dr. Zeig como Erickson havia desenvolvido com tanta excelência a sua sensibilidade e percepção. Sua resposta foi: “Ginástica mental!”. Ao ler algum livro a respeito do seu trabalho, já bastante decodificado e tornado claro, muitas pessoas passam por experiências emocionalmente muito intensas. São muito divertidas e comoventes. Ora sorrisos, ora gargalhadas, ora lágrimas. Sua sensibilidade e percepções eram muito desenvolvidas. O aprendizado e a percepção de mínimos detalhes e os seus significados no código de comunicação não-verbal completavam a sua acuidade sensorial.

Zeig contou que pratica ginástica mental com sua filha pequena: ao sentar-se à mesa de um restaurante, enquanto esperam, brincam de adivinhar (descobrir) pequenas mudanças na disposição dos talheres, copos, pratos etc. que um dos dois faz enquanto o outro fecha os olhos. Ao abrir os olhos, cada um, por sua vez, deve identificar no cenário quais foram as alterações feitas pelo outro.

Certa vez perguntaram ao Dr. Erickson por que ele não usava sua habilidade e poder mental para abandonar a cadeira de rodas na qual passou muitos anos em sua juventude e os últimos anos de sua vida. Ele respondeu que estava muito bem daquele jeito. Tendo sido vítima de poliomielite quando adolescente, fora desenganado pelos médicos. Quase como se fosse um desafio ao diagnóstico médico, decidira sobreviver à doença e recuperar a vida e o prazer de olhar adiante.

Essa atitude o estimulou a exercitar-se e, inclusive, a recuperar sua mobilidade por muitos anos de sua maturidade. Alguns anos antes de sua morte, voltou à cadeira de rodas. Nessa época, parece que recorria à sua condição pessoal para obter resultados com seus clientes e pacientes: manipulava com excelência os significados das contingências da existência humana para orientar os pacientes a uma atitude mais positiva e voltada para o futuro.

Sabe-se que grande parte de sua ginástica mental foi praticada para recuperar a saúde e mobilidade após as “pólios” e para controlar e conviver com as dores provenientes dessa doença. Disse, certa vez, que sua força havia sido desenvolvida graças às dificuldades que encontrara ao vencer a poliomielite.

Acima de tudo, de todas as lições desse mestre e de seus exemplos pessoais, estão os troféus como ser humano ao lidar com duras condições de sobrevivência e sua obstinação em ajudar e cuidar do próximo. Fico muito feliz em viver nesta época. Acredito que muitos outros grandes mestres dedicaram seus esforços e vidas para o crescimento e desenvolvimento humano, porém, permaneceram anônimos. Uma das razões é a oportunidade de aprender com indivíduos que podem levar esses conhecimentos para além das fronteiras da medicina e de ser possível o acesso a livros, que trazem essas pérolas a qualquer um que as deseje.

Conclusão

Esse breve artigo serve apenas para despertar no leitor a curiosidade pelo aprofundamento no conhecimento de um dos mais poderosos modelos de intervenção e de autoconhecimento nascido no campo das ciências comportamentais. Sua contribuição é significativa a tal ponto que em menos de cinqüenta anos deu origem a uma série de ramificações, entre elas a PNL(atualmente com quase 30 anos de existência), que hoje já faz parte de vários currículos acadêmicos em diversas áreas profissionais além dos cursos de Psicologia.

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